domingo, dezembro 31, 2006

Salve 2007

De sua formosura
deixai-me que diga:
é belo como o coqueiro
que vence a areia marinha.
De sua formosura
deixai-me que diga:
belo como o avelós
contra o Agreste de cinza.
De sua formosura
deixai-me que diga:
belo como a palmatória
na caatinga sem saliva.
De sua formosura
deixai-me que diga:
é tão belo como um sim
numa sala negativa.
É tão belo como a soca
que o canavial multiplica.
Belo porque é uma porta
abrindo-se em mais saídas.
Belo como a última onda
que o fim do mar sempre adia.
É tão belo como as ondas
em sua adição infinita.
Belo porque tem do novo
a surpresa e a alegria.
Belo como a coisa nova
na prateleira até então vazia.
Como qualquer coisa nova
inaugurando o seu dia.
Ou como o caderno novo
quando a gente o principia.
E belo porque o novo
todo o velho contagia.
Belo porque corrompe
com sangue novo a anemia.
Infecciona a miséria
com vida nova e sadia.
Com oásis, o deserto,
com ventos, a calmaria.

(João Cabral de Melo Neto)

quinta-feira, dezembro 28, 2006

O Natal de Vovó


A lembrança de outros natais é dolorida e por isso, sinto uma sensação agridoce ao falar da visita que fiz a minha vovó Sylvia, domingo passado. Coisa ruim da velhice, sentir que o outro se vai escoando, e é uma lembrança pálida que está ali, diante da gente.
Mas fui vê-la, com Dione - prima, afilhada e amiga. E foi bom, e foi doce estar com com nossa avó, que ganhou um boneco-bebê de presente de Papai Noel e relembrou através dele os filhos, os netos e a bisneta, em cuja carne e vida se faz firme e perene, para além do Alzheimer.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Salve, simpatia!


Ontem foi aniversário do meu amigo Nininho - Porfírio, pros íntimos que sabem o nome científico dessa criatura. Lenny Kravitz do samba, perfeita tradução do que o Rio tem de melhor, responsável pela criação deste blogue, amigo que virou irmão e está presente em minha vida, mesmo que à distância. Brigo tanto com esse negão. Amo tanto esse menino grande. Queria espremer aqui um tiquinho dessa saudade que sinto e dizer pra ele deixar de ser ciumento, que a escritura de posse no meu coração já foi lavrada. Sim, porque ele tá arretado comigo por causa do cartão de ano novo que fiz e que mostra Delano, outro amigo, DUAS VEZES, enquanto ele aparece uma só... Te cuida, meu tabacudo querido, e tenha certeza de que esta 'paraíba-pernambucana' torce sempre para que você seja e esteja feliz.

terça-feira, dezembro 26, 2006

Fotolog de Natal - 1

Faz tempo que o Natal não é lá essas coisas maravilhosas pra mim: minha mãe não mantinha a tradição e, depois que vovô Oswaldo morreu, a festa perdeu a graça. Mas, ontem, juntamos os desgarrados e a festa foi divertidíssima: Guida e os filhotes Alice e Gil, tia Miriam com Samuca, e minha prima Dione com o namorado, Pablo. Todos aqui em casa.
Preparei tudo desde cedo, tentei criar uma sala aconchegante... e os danados só quiseram ficar amontoados na varandinha de casa, sob a luz das velas e dos pisca-piscas. Abaixo, Di e Pablo... Minha tia super gatona, que ouviu Blur, Fat Boy Slim e Jimi Hendrix a noite toda...
Guida e Dione...
Samuca e eu...
Alice, ajudante de Papai Noel... Ela e Gil assistindo a "Era do Gelo 2", dentro da maratona de dvds piratas adquiridos com essa finalidade (cinco filmes a R$ 6). Hoje só não estou mais feliz porque fiquei sabendo que minha sobrinha Luiza foi hospitalizada, com pneumonia - meu irmão passou o Natal na urgência e só me avisou depois. Está mais braba e impaciente que nunca, mas vai ter alta amanhã; a febre graças a Deus baixou e depois de três dias sem comer, voltou o apetite.

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Fotolog de Natal - 2

Esta foi a nossa mesa de Natal; tão bonita e gostosa que não resisti e postei esta série de imagens... Cada um trouxe uma coisa, e foi comida farta e risada solta até de manhã. Pra quem não confia nos nossos dotes culinários, seguem as fotos:

Acima, salpicão de frango defumado. Abaixo, tender ao molho de tangerina e hortelã - ambos, 'executados' por mim.

Tia Miriam trouxe rondelle de espinafre e esse lombo maravilhoso, com castanhas de caju e fios de ovos.

Guida trouxe docinhos, uma série de 'beliscos', compota de caju, arroz branco soltinho (que não sei fazer!) e a farofa da foto abaixo, à esquerda. A farofa da direita foi feita por Di, que ainda preparou um negócio pecaminoso, chamado 'brigadasco' - pedacinhos de damasco unidos com chocolate.

domingo, dezembro 17, 2006

"Como a água da chuva caindo no sertão"

Acho que poucas vezes fiquei tão emocionalmente esgotada quanto durante a semana que passou: participei de onze bancas de conclusão de curso - seis como orientadora, cinco como membro julgador. Cheguei em casa, caí dura na cama, e dormi horas este fim de semana...
O resumo que posso fazer do processo é que nenhuma
experiência de orientação é igual à outra.
A aluna que eu pensei em não orientar mais, porque vivia atrasada e começou o processo tarde, engrenou na produção e tirou um merecido dez.
A equipe que chegou a pensar em trocar de orientador, por não sentir firmeza nos meus conhecimentos técnicos em rádio, também tirou dez e me agradeceu de público a paciência e o envolvimento na construção do trabalho.
O grupo que eu achei que seria reprovado, pelos problemas pessoais dos membros envolvidos e atraso no início da orientação, tirou um sete e meio que me deu mais trabalho e alegria do que se fosse uma nota mais alta: filho feinho nascido a fórceps, e nem por isso menos festejado.
Um trabalho redondinho, que eu acreditava ter condições de ser bem sucedido, foi impugnado em plena banca por, entre outros problemas, reproduzir ipsis literis uma matéria publicada em jornal por um dos membros julgadores. Outro grupo de alunos, que por bobeira ou inexperiência deixei passar para a fase final (apesar das ausências nas sessões de orientação e falta de qualidade no resultado do produto), também foi reprovado e me fez sentir culpada.
A aluna com quem o processo mais fluiu veio me dizer, empregando a expressão que reproduzi como título, da alegria que foi partilhar esses encontros. Tirou nove, merecia doze. Mas isso de nota é sempre relativo e certamente não o mais importante. A esperança que tenho é de que as trocas tenham valido para todos, e que eles levem consigo tanto quanto me deram.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Feliz 2007


Falta muita gente querida neste vídeo tosco, feito com as fotos que tinha em mãos; ainda assim, fico feliz de agradecer aos que aparecem, pela presença constante em minha vida.

Orkut









Tava hoje revisando o livro de recados e fui vendo o que meus monstrinhos escreveram nos últimos tempos. Estou quase de férias, e quase sentindo saudade deles. Quase. Bem quase. Ainda não! Hehehe.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Parafraseando Neruda


Cuál es el trabajo forzado de Pinochet en el infierno?

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Mais um domingo feliz

Eta, que este sítio cada vez me rende mais momentos de alegria. Depois de encontrar Cida, ontem foi a vez de eu conhecer ao vivo Fabiana, recém-chegada da Inglaterra. A sensação de sabê-la real foi muito, muito boa. E a tiracolo ela trouxe Tiger, o filhotinho que não fala português e vai vestido de homem-aranha para qualquer evento social, da sorveteria ao casamento da rainha. Ao verem essa coisa linda de quatro anos correndo fantasiada pelo Bairro do Recife, a reação das pessoas todas era sorrir.

Pra completar a farra, junto comigo foram Gil e Alice, filhotes de quatro e cinco anos de Guida, minha amiga de todas as horas. Diante do muito que podiam ter aprontado, a criançada se comportou e eu me diverti pra caramba. E ri mais ainda ao descobrir que Fabiana estudou com Isaar, que foi minha cunhada e dividiu casa com Guida por mais de ano.

É, Recife é um ovo. De codorna.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Rotina


Eu e Leo ao telefone, falando de quando a gente se conheceu...
Lembramos que ele foi a quarta tentativa de um amigo comum me 'desencalhar' naquela noite, e eu já estava com tanta raiva de me sentir na prateleira e tão avessa a qualquer aproximação, que lhe dei um coice de cara... Depois, o corajoso me chamou pra dançar... Foram dez músicas seguidas, e diante da ausência de tentativas de abordagem, eu fui soltando a raiva que nem panela de pressão perde o gás... Aí sentamos, conversamos, e só dei um beijinho na hora de ir embora, de manhã, depois de conversarmos horas sentados num ponto de ônibus na Cinelândia... Ele pegou meu telefone e achou que nunca mais ia me ver... E ligou no mesmo dia, porque não sabe seguir as técnicas de não ligar imediatamente... E eu aceitei encontrar com ele no dia seguinte, porque não sei fazer doce e gostei mesmo do rapaz.
A segunda vez que eu o vi foi em Santa Teresa, num barzinho bonitinho do Largo das Neves, e eu fiquei com muita raiva porque, ao me cumprimentar, ele me deu dois beijinhos no rosto. "Quer ser amigo? Então vai ser", pensei comigo mesma. Ele não entendeu nada mas, por causa disso, não abri a guarda e a gente só ficou juntos no fim da noite, quando ele conseguiu quebrar a distância. No fim, foi bom, foi um beijo tão bom que no mesmo instante eu me arrependi de ter perdido tempo.
A terceira vez...
-Mari, eu lembro da tua roupa, eu lembro do que eu pensei da primeira e da segunda vez... Mas você sabe como foi a terceira vez que a gente se encontrou? - perguntou o Preto, todo desiludido.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Registro da farra


Dona Cida, que conheci aqui neste blog e virou amiga 'real', esteve comigo domingo passado, no show de Isaar. E mandou hoje as fotos que provam a tarde feliz que tivemos, e que quero compartilhar com vocês...
Eu e Guga, só alegria...
As risadas de Guida (à esquerda) e Cida (à direita), ladeando meu risinho sem graça (não sei porque).

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Feliz aniversário


Mesmo tão longe, é bom sentir a gente assim perto.

domingo, dezembro 03, 2006

Domingo feliz

Porque amanhã faz um ano que Leo entrou na minha vida.
Porque hoje é show da Nega, em Olinda.
Porque tou agorinha saindo de casa, desdobrar minhas asinhas ao sol...
"Borboleta amarelinha pousou
Na janela da cozinha, pra avisar que meu amor
apontou lá na avenida, tá pra chegar...
Perguntei pra borboleta amarelinha
Porque passei tanto tempo tão sozinha,
E ela sorriu e pousou na janela da cozinha..."

(Isaar de França)

sábado, dezembro 02, 2006

Presepadas profissionais...

Hoje eu ia passando pela praça, aqui perto de casa, e encontrei Paulão. Há quase dez anos que não o via. Era meu colega de faculdade, nas disciplinas que acabei cursando junto com a turma de Rádio e TV de 1990.2, que me adotou. Se eu tivesse pensado melhor, tinha apontado Paulão como responsável por um dos maiores micos por que já passei na vida. Enfim, nunca é tarde para relembrar...
Depois de ter sido irresponsavelmente reprovada em EPB, de tanto gazear aula para ouvir Siba e grande elenco tocarem violão nos corredores do CAC, fui cursar a disciplina de manhã, para não atrasar meu curso. O professor queria que apresentássemos um seminário, e meu grupo, formado por meninos do primeiro período cheios de vontade de produzir, resolveu fazer um vídeo discutindo a questão da "Pena de Morte".
A gente era uma turminha muito afoita, devo admitir. Como a UFPE não permitia que saíssemos com a filmadora sem um técnico responsável, e como o técnico irresponsável não trabalhava no fim de semana, pegamos a máquina da minha mãe emprestada, montamos um pau-de-luz improvisado com uma vara de goiabeira e uma lâmpada de 500W e saímos em campo. Uma das entrevistas mais importantes que conseguimos agendar foi com o ex-arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara.Além de Paulão e de mim, em nossa equipe estavam Paula, Ricardo e Ulisses - esse foi o embrião da futura Pruma, produtora com muitas histórias. Como todos os outros faziam Rádio e TV e eu, além de estudar Jornalismo, estava um semestre à frente deles, fiquei encarregada de comandar as perguntas, enquanto cuidavam da produção. E foi um verdadeiro desastre.
Entramos na Igreja das Fronteiras, onde Dom Helder morava, na Casa Paroquial. A primeira providência dos meninos foi enganchar um fio na xícara onde estava o chá do pobre do velho, e derrubar em cima de uma beata que estava com ele. Paulão (1,90m, 150kg) gritava feito um louco - "Ulisses, caralho! Sobe esse pau que ele tá aí é pra subir mesmo" - enquanto uma freirinha se benzia. Mais adiante, acho que pediu para o entrevistado levantar as mãos para o céu - "Dom Helder, faça aquela posiçãozinha que o senhor gosta de fazer" - mas ele nem se mexeu. A vergonha foi se acumulando e, no fim, eu pedi desculpas. "Dom Helder, nos perdoe, ainda estamos começando", etc, etc. A beata que estava com ele retrucou com ar irônico - "já começaram bem, hein?" - mas a gente ainda poderia ter se retirado com alguma dignidade, se Paulão não resolvesse contribuir. Enquanto o santo senhor dizia que eu não me preocupasse, que ele já estava acostumado com jornalista etc e tal, o jumento achou de interromper. "Pode deixar, Dom Helder. Se o senhor ainda estiver vivo quando a gente se formar, a gente vem lhe entrevistar outra vez".
Apesar dos pesares, o vídeo ficou até bonitinho, perfeito como trabalho amador de uma turma de primeiro período que queria ilustrar um seminário de EPB. Mas Paulão ficou encantado com a obra-prima. Eliminou os créditos originais (que, com todo defeito, eram bons; demonstravam o talento latente de Ricardo, hoje um editor maravilhoso, e combinavam com a luz e movimento meio toscos do filme inteiro) e substituiu por umas ceninhas cor-de-rosa, florzinhas, cascatas, cachorrinhos, com a música "What a Wonderful World", de Louis Armstrong. Que porra tinha a ver aquele mundo maravilhoso de Walt Disney com a pena de morte, nenhum dos outros quatro conseguiu entender. Mas a megalomania de Paulão não tinha limites: ele começou a inscrever o vídeo em tudo que foi mostra da cidade. E, claro, o nome da gente aparecia piscando no fim da grande obra. O desespero foi ao auge no dia em que ele confessou que ia mandar uma cópia para Jô Soares. Aí Paula, que é a mais mala sem alça de todos nós, pediu a matriz emprestada e, 'sem querer', aplicou a punição capital à "Pena de Morte".
Em seguida, eliminamos Paulão da jogada e agregamos André ao grupo, transformando-o numa produtora. Tínhamos vários grandes trabalhos em mente, mas só realizamos filmagens de festinhas de aniversário. A primeira, não esqueço: era de Allanzinho e Karolinny. Loucos pra comer brigadeiro, fomos os cinco (!) participar da filmagem. Sem nada no bucho, que era pra aproveitar. Que ilusão. Ninguém nos ofereceu coisa nenhuma. Já no fim da festa, com a garganta seca e o olho doendo depois de segurar o pau de luz por três horas seguidas, eu pedi um copo de água à dona da festa, que ficou com vergonha e me deu guaraná. Na ilha de edição, entre (d)efeitos especiais de aviõezinhos e corações e o som terrível do Xou da Xuxa, a gente só via os closes que Ricardo, o câmera oficial, deu a noite toda na bandeja das coxinhas. A Pruma não rendeu dinheiro, mas grandes amizades e boas histórias. Uma das melhores foi quando Tom Jobim veio a Recife - salvo engano, foi a última vez que nos visitou antes de morrer. A gente se plantou na frente do hotel e conseguiu marcar uma entrevista com ele: Tom não quis dar entrevista a nenhuma emissora, nenhum jornal, mas aceitou conversar conosco quando soube que éramos estudantes.
No dia marcado, chegamos quarenta minutos mais cedo e montamos toda a parafernália no hall do hotel. Nervosa, eu sentei com Paula num sofá e ficamos 'treinando' as perguntas que faríamos, enquanto Ricardo e Ulisses filmavam: "Tom Jobim, o que acha disso? Tom Jobim, como vê aquilo?" No sofá da frente tinha um gringo muito queimado de sol, com uma camisa havaiana horrorosa, olhando pra nós duas. "Que gringo mais assanhado, esse", concordamos Paula e eu.
Daqui a pouco, Tom desce, de chapéu na cabeça, charuto na mão e sorriso nos lábios. "Este aqui é meu violonista, Tião Neto", apresentou ele, chamando o gringo - que gargalhava, enquanto Paula e eu queríamos morrer.
Gravamos quase uma hora de entrevista e eu, tiete, ainda roubei o cotoco do charuto pra mim.
Quando fomos assistir à fita, quase mato Ulisses: ele ficou virando a câmera de cabeça pra baixo, segundo ele "para fazer movimentos experimentais". A gente quis esguelar o brilhante gênio: "experimenta quando tiver filmando tua mãe, fedapê!".
Da tarde feliz que passei com Tom e me fez admirá-lo não só como artista, mas ser humano, só ficaram as lembranças. O irmão de Paula gravou um filme em cima da fita. E a empregada lá de casa jogou o charuto fora.

Leda e o Cisne

E o que poderia o corpo, caído naquele branco ímpeto,
Senão sentir o estranho coração batendo onde se aloja?
(W.B.Yeats)

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Dia Mundial de Luta contra a Aids

Eu tinha doze ou treze anos e ele trabalhava com minha mãe. Era delicado, tinha um olhar inteligente e direto, amava cinema e me conquistou definitivamente no dia em que me falou que eu parecia com Isabelle Adjani. Tinha uma cara de poeta trágico e um nome de dançarino de tango: Hernandez. Era homossexual e foi a primeira pessoa relativamente próxima de mim que vi morrer por causa da Aids.
Eu era quase uma menina, mas o exemplo dele marcou a ferro e fogo duas tristezas na minha alma. A primeira: a raiva grande de saber que seu companheiro de longos anos, o que tomou conta dele durante os dias de dor, não pôde receber pensão nem herdar os bens que construíram juntos - e desde então me posicionei contra as leis hipócritas de nosso país, que impedem os diferentes de serem cidadãos. A segunda: ter visto depois dele alguns ídolos e várias pessoas comuns padecerem do mesmo mal. Com eles me solidarizo, e por todos nós torço que a cura seja logo descoberta.
Para Hernandez, deixo aqui meu beijo.

Preferências e Desistências Literárias


Sean me pediu pra falar dos livros/autores que desisti de ler... Então, lá vai.
O primeiro, e é uma pena, é Guimarães Rosa. Não consigo ir além da terceira página de "Grandes Sertões: Veredas". Em compensação, adoro os continhos mais curtos e palatáveis. Como o bom mineiro escreveu num deles, "todo abismo é navegável a barquinhos de papel"...
Outros da mesma linha: Euclides da Cunha. James Joyce. Alguns romances de Umberto Eco - que, paradoxalmente, ao escrever sobre comunicação e ciência consegue ser preciso e precioso.
Leio de tudo e o tempo todo: de bula de remédio a revista Sabrina. Clarice Lispector, Carlos Drummond, Graciliano Ramos, Fernando Pessoa, José Saramago, Machado de Assis, Mia Couto e Carlos Pena Filho para mim são geniais.
A relação com a palavra escrita entranhou-se em mim bem antes de eu me alfabetizar sozinha, aos cinco anos. Vem talvez da forma como meu nome foi escolhido: mamãe tirou o nome da personagem de um romancezinho chato de Jorge Amado, chamado "Subterrâneos da Liberdade", na moda entre a galera de esquerda nos anos 70 por mostrar o cotidiano da clandestinidade. Nesse sentido, meu irmão Gabriel deu mais sorte: ela leu "Cem Anos de Solidão" bem na época em que ele nasceu!

terça-feira, novembro 28, 2006


Sensação horrível de que minha vida estagnou e eu só faço esperar. E é um esperar sem esperança. Não como se eu preparasse coisas, mas estivesse impedida de fazê-lo. Tenho tanto: minha casa, meu trabalho, meu amor. E ainda assim, não tenho nada, e me sinto tão vazia e tão sozinha que às vezes dá vontade de sumir. De dormir uma semana, um mês, o resto do ano. De comprar uma bicicleta e sair por aí, sem rumo. Tudo tão longe, se esvaindo entre os dedos. E eu, paralisada, sem tpm e com todos os motivos pra me sentir assim.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Theodora, presente de Deus


Esta semana, os cabelereiros Júnior de Carvalho, 46, e Vasco Pedro da Gama, 38, entraram para a história como o primeiro casal homossexual masculino a ser autorizado pela justiça brasileira a adotar uma criança. Na certidão de nascimento da pequena Theodora, 5, são os dois que agora respondem pela paternidade. No mesmo documento constam os nomes dos quatro avós paternos.A decisão da Justiça de Catanduva, a 385 km de São Paulo, deve abrir precedentes e servir de estímulo para que outros casais façam o mesmo.
Os cabeleireiros Vasco Pedro da Gama Filho, de 35 anos, e Júnior de Carvalho, de 42, são agora oficialmente pais de Theodora, de 5 anos. Além do reconhecimento, a decisão garante direitos à criança, como a guarda do outro pai no caso da morte de um dos dois. A juíza da 2ª Vara Criminal da Infância e Juventude de Catanduva, Sueli Juarez Alonso, que tomou a decisão favorável aos cabeleireiros, afirma que o bem-estar da criança precisa estar acima de tudo. 'Nós temos que nos desprover de preconceitos e moralismos hipócritas. Com o fato de a certidão constar o nome dos dois, ela (Theodora) está com o direito completamente garantido', afirma.
(Leia mais aqui, aqui e aqui)

sábado, novembro 25, 2006

Um Mico Publicável

Fui intimidada por Leo a escrever um post sobre um mico publicável. Ah, tenho tantos. Já postei alguns aqui, como a história da cigarra. Pensei e repensei e agora me veio à memória dois miquinhos simpáticos, "de salão". Tá, são esses que vou contar... E repasso a missão pra Di, Debi, Gio, Raimundo e Tita, pra brincadeira seguir adiante...
Eu tinha uns quinze anos, era super tímida, e comprei ou ganhei uns óculos de fantasia, pavorosos, que resolvi mostrar à minha mãe. Ela, notoriamente gaiata, enfiou-os prontamente na cara e foi assim de Candeias ao centro do Recife (algo em torno de uns 20km), encarando as pessoas. Primeiro eu fiquei desesperada. Depois, comecei a achar engraçado. Por fim, tava doida pra aderir à idéia. E foi o que fiz, para mal dos meus pecados.

Foi só botar os óculos que, no mesmo segundo, Rogério, o professor de hidroginástica de mamãe (um gato, afemaria!) emparelhou o carro conosco. Eu fiquei roxa, azul, cor de rosa. Acabei estoicamente sem tirar o maldito apetrecho na cara, na esperança de não ser reconhecida ou passar despercebida.

Não tive tanta sorte.

Depois eu soube que ele andou perguntando se "a filha de Cininha tinha problemas". Até hoje, não sei se se referia à minha parte física ou mental...
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Uns dois anos depois, outro mico memorável: estava eu, alegre e flanando, numa calourada da UFPE. Eu era enxerida, andava pelo campus todo, tinha vários amigos a quem estava ansiosa pra encontrar. Aí, de longe, bati o olho em um: era Nando, que tinha feito educação física junto comigo e estudava engenharia (bicho doido e querido que tinha um fusquinha e me dava carona sempre, o carro lotado de homens e só eu de menina, todo mundo fazendo presepada e ele dirigindo com uma cueca enfiada na cabeça).
"Nando!", pensei feliz. E corri pra junto dele. Cheguei por trás já abraçando, encaminhando um beijo... e não era Nando.
O rapazinho quase-beijado pegou e falou: "Continue!"
Fiquei azul, gaguejei, pedi desculpa e me escafedi do local.
Cinco minutos depois, dei de cara com o próprio Nando. "Feladaputa, passei a maior vergonha por sua causa!", e contei o ocorrido.
Ele olhou o cara e ficou arretado: "Oxe, aquele é Rochinha, um cába feio da peste, como é que você me confunde com ele?"
Foi lá, chamou Rochinha, me apresentou oficialmente, rimos muito os três com a história, e no final eu ganhei mais um amigo.


sexta-feira, novembro 24, 2006

"Amigo é o irmão que a cegonha entregou em outra casa"

Tou aqui, "brincando de definições", a pedido do Leprechaun...
Algumas que ficaram bonitinhas:
Felicidade - espécie de purpurina que cobre o mundo, quando faz sol dentro da gente
Alegria - momento em que cinco mil borboletas transformam seu coração em jardim
Sucesso - quando você tem na mão a última pecinha do quebra-cabeças
Riqueza - aquele muito que, mesmo sendo pouco, não cabe em seu coração
Vitória - o exato instante em que você descobre que o bicho-papão não passa de um guarda-chuva

terça-feira, novembro 21, 2006

A filha de seu Creisson


"Um, dôizi, trêizi, cáto. Parabénzi!"

segunda-feira, novembro 20, 2006

Meu afoxé preferido, comemorando o que há de negro em mim


Aprendi com a Matamba
a jogar capoeira e viver candomblé
Ser original, tocar berimbau e dançar afoxé
Meu corpo não nasceu para a senzala
Sou filho de Alafin Oyó, Xangô
A liberdade é meu axé de fala
Kawô kabiyèsílé, kawô!

...







Porque hoje é dia de Zumbi, e da Consciência Negra.
Porque ainda se difunde a falácia de que ser negro é sinônimo de ser feio, quando esteticamente é bem o contrário.
Porque eu encontrei um
site interessantíssimo com fotos de modelos brasileiros afrodescendentes.
Porque eu amo Elis Regina e concordo que
black is very beautiful...
Porque sim, hehehe. O post é pra olhar, e não pra explicar.