sexta-feira, setembro 23, 2011

23 de setembro


"A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome,
nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la.

(...)

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

(...)

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera"

Cecilia Meireles

Em homenagem a minha mãe, Cininha, que completaria 66 anos hoje, e a minha avó, Sylvia, falecida há exatos três anos.

quinta-feira, agosto 26, 2010

Show na fila

Foi no supermercado, sempre lá.
Eu na fila, com minha (des)forma física dos últimos tempos, e o cliente atrás de mim também usando muito mais compasso do que régua na composição corporal.
No caixa, um homem. Embalando, outro homem. O caixa - franzino, espinhudo, tímido. O embalador – marrudinho, com bíceps à mostra e ar debochado.
Visualizaram a cena?
Pois quando comecei a colocar as minhas compras na esteira, o embalador começou a cantarolar. Depois de um pouquinho, começo a prestar atenção na letra de Roberto Carlos: “seus netos vão lhe perguntaaaaar em poucos anos... Pelas baleeeias que cruzavam os oceaaaaaanos”...
Deu um plim no juízo de que o negócio era proposital, mas vai que era mania de perseguição de gorda neurótica, então fiquei na minha.
Daí o cara terminou o trechinho e engatou outra música: “os animal tem uns bicho interessante, imaginem só como é a tromba dos elefantes”...
Bateu a ziquizira em mim e eu virei pra ele, sorrindo, e disse:
“Se você não quiser que eu chame o gerente pra reclamar de você agora, vai cantar uma musiquinha em homenagem a outro bicho, o veado”.
E o caixa e o cliente ficaram rolando de rir e fazendo corinho enquanto ele, engasgado, executou de cabeça baixa o Robocop Gay.

segunda-feira, outubro 05, 2009

Mercedes

"Solo le pido a Dios /
que el dolor no me sea indiferente/
que la reseca muerte no me encuentre /
vaca y sola sin haber hecho lo suficiente"
Deixo aqui minha homenagem a Mercedes Sosa, grande música e mulher latino-americana. Entre todas as qualidades que tinha, contava ainda com a capacidade de me fazer relembrar minha mãe, que amava suas canções e foi confundida com ela algumas vezes, vestida de índia peruana com seu poncho de alpaca, em nossas andanças pelo sul do continente.

domingo, maio 10, 2009

Convite!


A Rede Parto do Princípio está promovendo, em diversas cidades brasileiras, uma exposição fotográfica combatendo "mitos" ligados à cesárea, que no Brasil é feita sem necessidade na imensa maioria dos casos. A exposição visa incentivar a escolha segura e consciente da via de parto, preservando o vínculo afetivo mãe e filho, a amamentação na primeira hora de vida e o parto humanizado, expondo os riscos da cesárea mal indicada para mãe e o bebê e denunciando as altas taxas desse tipo de cirurgia nos hospitais do país.

O evento integra a Semana Mundial pelo Respeito ao Nascimento, uma iniciativa da Alliance Francophone pour l’Accouchement Respecté (AFAR) que vem ocorrendo desde 2004 . Este ano, o tema abordado será o aumento das taxas de cesáreas no mundo.

Em Pernambuco, teremos atividades em Garanhuns e no Recife. Para saber mais, visite o site da Parto do Princípio.

quarta-feira, setembro 24, 2008

Sua benção, vovó!


Nos últimos tempos, os olhos de dona Sylvinha já não percebiam direito o mundo em que esteve durante quase um século. Era menina de novo: após o cansaço de tanta vida, podia se admirar com o novo-velho de cada dia e se esquecer de muitos percalços. Chance de tocar La Cumparsita no teclado e se sentir mais próxima da mãe, do pai, da irmã, de uma época em que recitava Castro Alves e não pensava que eles partiriam tão cedo. De sentar na cadeira da varanda e ver seu amado Oswaldo chegando pra almoçar, na figura de qualquer senhor de cabeça branca que passasse pela rua. De retornar a um tempo em que precisaria de pelo menos duas mãos para enumerar a prole. De simplesmente ficar feliz com a visão de qualquer criança, sem se importar em saber se filho, neto ou bisneto. E nós, sua família e seus amigos, nos entristecemos de vê-la tão frágil, tão aparentemente desprotegida. Mas ela nunca foi fraca: foi por conta de uma força prodigiosa que sobreviveu a uma série de perdas avassaladoras ao longo da vida, superando inclusive doenças graves. Mesmo com medo, mesmo precisando de apoio, mesmo se reconhecendo despreparada para várias das missões que precisou enfrentar, seguiu em frente. Sua vida foi um testemunho de fé e simplicidade, de valorização da família e do próximo. Tinha o pavio curto e a grandeza de se arrepender sinceramente de seus erros. Tinha defeitos e qualidades, mescla complexa que resultou em alguém que soube ser filha, mulher, mãe, avó, bisavó. Por isso, nós a amamos. Por isso, ela continuará conosco, entranhada na carne e na alma. Perene, serena e íntegra, como esteve e partiu deste mundo.

sábado, agosto 09, 2008

Em honra de um aniversário


Hoje é dia dela, que com delicadeza e doçura se faz sempre presente em minha vida, de formas insuspeitas e com uma persistência tão suave que sempre me enternece. Engraçado isso, gostar de uma pessoa que nunca se viu pessoalmente. Mas gosto, e muito, e hoje ela fez cinquenta anos. Querem motivo melhor pra eu interromper o marasmo deste sítio, querem razão mais justa pra deixar aqui o beijo estalado e o abraço que ela merece? Parabéns, Ana, minha flor. Pra você, por você, sempre.