Preciso de uma empregada para me ajudar, e há três meses que procuro. Não pode dormir em casa, porque aqui não tem espaço. Não pode morar longe, porque além do alto custo das passagens, como trabalho à noite, ela vai precisar ficar com Antonio até tarde, vários dias por semana, e a maioria dos ônibus de Recife só circula até 22h. Não precisa ser nenhum ás na cozinha nem craque na arrumação, mas tem que gostar muito de criança e estar disposta a respeitar e cumprir minhas decisões a respeito do meu filho.
Semana passada, veio uma candidata.

Janaína, dezenove anos (ui). Já tomou conta de vários sobrinhos e dos meninos da vizinhança, mas nunca trabalhou em lugar nenhum. Não tem carteira, nunca tirou, e não se incomoda se eu assinar ou não (tou fora). Fala como uma matraca, a 78 rpm. As unhas vermelhas têm uns dez centímetros de comprimento. Compareceu à "entrevista" de short curto e blusa decotadíssima, com o material quase todo de fora (Antonio provavelmente iria apreciar, mas Leo não gostou). Esperou Leo se retirar (impaciente com tanta falação) para me explicar que ainda não teve filhos porque toma pílula desde os 13 anos e por isso as tetas assim, salientes (?). Pode trabalhar todos os dias, de manhã, de tarde e à noite, sem folga se for o caso (ahã). Gosta muito de crianças, mas elas têm que ser bem treinadas desde pequenas e assim EU TENHO que comprar desde já um quadrado (cercadinho) para acostumar Antonio a ficar sozinho e quieto, sempre. Nada de pegar criança no braço, bebê tem que ser criado sem frescura, o primo dela come feijão desde os três meses.
Depois que saiu, disse à colega que tinha dado a dica do emprego que EU TENHO que comprar um quadrado (fiquei só pensando que, no mínimo, Antonio iria chorar quatro horas diárias seguidas, quando ela estivesse sozinha e completamente responsável por ele) e que está procurando vaga como vendedora no shopping aqui perto, e que assim que a vaga saísse, iria me dar um pé na bunda.
Cheguei a combinar que começaria amanhã, mas depois juntamos nossas impressões e o resumo não deu em boa coisa.
Leo não a quis.
Eu não a quero.
Estamos tão felizes de continuarmos sozinhos...