quarta-feira, março 29, 2006

Quem sou eu?


Olhaí, pessoas: inspirada em minha amiga Ingrid, eu preparei um quiz especialmente pra vocês testarem os conhecimentos sobre este ser tão especial e inspirado: eu. Cliquem aqui. Quero só ver o que vai dar... Hehehe.

Baleia


A cachorra Baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pêlo caíra-lhe em vários pontos, as costelas avultavam, num fundo róseo, onde manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida.Por isso Fabiano imaginara que ela estivesse com um princípio de hidrofobia e amarrara-lhe no pescoço um rosário de sabugos de milho queimados. Mas Baleia, sempre de mal a pior, roçava-se nas estacas do curral ou metia-se no mato, impaciente, enxotava os mosquitos sacudindo as orelhas murchas, agitando a cauda pelada e curta, grossa na base, cheia de roscas, semelhante a uma cauda de cascavel.Então Fabiano resolveu matá-la.
Foi buscar a espingarda de pederneira, lixou-a, limpou-a com o saca-trapo e fez tenção de carregá-la bem para a cachorra não sofrer muito. Sinha Vitória fechou-se na camarinha, rebocando os meninos assustados, que adivinhavam desgraça e não se cansavam de repetir a mesma pergunta:- Vão bulir com a Baleia? Tinham visto o chumbeiro e o polvarinho, os modos de Fabiano afligiam-nos, davam-lhes a suspeita de que Baleia corria perigo.
Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos os três, para bem dizer não se diferençavam, rebolavam na areia do rio e no estrume fofo que ia subindo, ameaçava cobrir o chiqueiro das cabras.
Quiseram mexer na taramela e abrir a porta, mas sinha Vitória levou-os para a cama de varas, deitou-os e esforçou-se por tapar-lhes os ouvidos: prendeu a cabeça do mais velho entre as coxas e espalmou as mãos nas orelhas do segundo. Como os pequenos resistissem, aperreou-se e tratou de subjugá-los resmungando com energia.Ela também tinha o coração pesado, mas resignava-se: naturalmente a decisão de Fabiano era necessária e justa. Pobre da Baleia. Escutou, ouviu o rumor do chumbo que se derramava no cano da arma, as pancadas surdas da vareta na bucha. Suspirou. Coitadinha da Baleia.Os meninos começaram a gritar e a espernear. E como sinha Vitória tinha relaxado os músculos, deixou escapar o mais taludo e soltou uma praga:- Capeta excomungado.Na luta que travou para segurar de novo o filho rebelde, zangou-se de verdade. Safadinho. Atirou um cocorote ao crânio enrolado na coberta vermelha e na saia de ramagens.
Pouco a pouco a cólera diminuiu, e sinha Vitória, embalando as crianças, enjoou-se da cadela achacada, gargarejou muxoxos e nomes feios. Bicho nojento, babão. Inconveniência deixar cachorro doido solto em casa. Mas compreendia que estava sendo severa de mais, achava difícil Baleia endoidecer e lamentava que o marido não houvesse esperado mais um dia para ver se realmente a execução era indispensável.
Nesse momento Fabiano andava no copiar, batendo castanholas com os dedos. Sinha Vitória encolheu o pescoço e tentou encostar os ombros às orelhas. Como isto era impossível, levantou os braços e, sem largar o filho, conseguiu ocultar um pedaço da cabeça.Fabiano percorreu o alpendre, olhando a baraúna e as porteiras, açulando um cão invisível contra animais invisíveis:
- Ecô! ecô!
Em seguida entrou na sala, atravessou o corredor e chegou à janela baixa da cozinha. Examinou o terreiro, viu Baleia coçando-se a esfregar as peladuras no pé de turco, levou a espingarda ao rosto. A cachorra espiou o dono desconfiado, enroscou-se no tronco e foi-se desviando, até ficar no lado da árvore, agachada e arisca, mostrando apenas as pupilas negras.
Aborrecido com esta manobra, Fabiano saltou a janela, esgueirou-se ao longo da cerca do curral, deteve-se no mourão do canto e levou de novo a arma ao rosto. Como o animal estivesse de frente e não apresentasse bom alvo, adiantou-se mais alguns passos. Ao chegar às catingueiras, modificou a pontaria e puxou Baleia, que se pôs a latir desesperadamente.
Ouvindo o tiro e os latidos, sinha Vitória pegou-se à Virgem Maria e os meninos rolaram na cama, chorando alto. Fabiano recolheu-se. E Baleia fugiu precipitada, rodeou o barreiro, entrou no quintalzinho da esquerda, passou rente aos craveiros e às panelas de losna, meteu-se por um buraco da cerca e ganhou o pátio, correndo em três pés. Dirigiu-se ao copiar, mas temeu encontrar Fabiano e afastou-se para o chiqueiro das cabras. Demorou-se aí um instante, meio desorientada, saiu depois sem destino, aos pulos.
Defronte do carro de bois faltou-lhe a perna traseira. E, perdendo muito sangue, andou como gente, em dois pés, arrastando com dificuldade a parte posterior do corpo. Quis recuar e esconder-se debaixo do carro, mas teve medo da roda.Encaminhou-se aos juazeiros. Sob a raiz de um deles havia a barroca macia e funda. Gostava de espojar-se ali, cobria-se de poeira, evitava as moscas e os mosquitos, e quando se levantava, tinha folhas secas e graveiros colados às feridas, era um bicho diferente dos outros.
Caiu antes de alcançar essa cova arredada. Tentou erguer-se, endireitou a cabeça e estirou as pernas dianteiras, mas o resto do corpo ficou deitado de banda. Nesta posição torcida, mexeu-se a custo, ralando as patas, cravando as unhas no chão, agarrando-se nos seixos miúdos. Afinal esmoreceu e aquietou-se junto às pedras onde os meninos jogavam cobras mortas. Uma sede horrível queimava-lhe a garganta. Procurou ver as pernas e não as distinguiu: um nevoeiro impedia-lhe a visão. Pôs-se a latir e desejou morder Fabiano. Realmente não latia: uivava baixinho, e os uivos iam diminuindo, tornavam-se quase imperceptíveis.
Como o sol a encandeasse, conseguiu adiantar-se umas polegadas e escondeu-se numa nesga de sombra que ladeava a pedra. Olhou-se de novo, aflita. Que lhe estaria acontecendo? O nevoeiro engrossava e aproximava-se.Sentiu o cheiro bom dos preás que desciam do morro, mas o cheiro vinha
Arregaçou o focinho, aspirou o ar lentamente, com vontade de subir a ladeira e perseguir os preás, que pulavam e corriam em liberdade.Começou, a arquejar penosamente, fingindo ladrar. Passou a língua pelos beiços gorrados e não experimentou nenhum prazer. O olfato cada vez mais se embotava: certamente os preás tinham fugido.Esqueceu-se e de novo lhe veio o desejo de morder Fabiano, que lhe apareceu diante dos olhos meio vidrados, com um objecto esquisito na mão. Não conhecia o objecto, mas pôs-se a tremer, convencida de que ele encerrava surpresas desagradáveis. Fez um esforço para desviar-se daquilo e encolher o rabo. Cerrou as pálpebras pesadas e julgou que o rabo estava encolhido. Não poderia morder Fabiano: tinha nascido perto dele, numa camarinha, sob a cama de varas, e consumira a existência em submissão, ladrando para juntar o gado quando o vaqueiro batia palmas.O objecto desconhecido continuava a ameaçá-la. Conteve a respiração, cobriu os dentes, espiou o inimigo por baixo das pestanas caídas. Ficou assim algum tempo, depois sossegou. Fabiano e a coisa perigosa tinham-se sumido.
Abriu os olhos a custo. Agora havia uma grande escuridão, com certeza o sol desaparecera. Os chocalhos das cabras tilintaram para os lados do rio, o fartum do chiqueiro espalhou-se pela vizinhança.Baleia assustou-se. Que faziam aqueles animais soltos de noite? A obrigação dela era levantar-se, conduzí-los ao bebedouro. Franziu as ventas, procurando distinguir os meninos. Estranhou a ausência deles.Não se lembrava de Fabiano. Tinha havido um desastre, mas Baleia não atribuía a esse desastre a impotência em que se achava nem percebia que estava livre de responsabilidades. Uma angústia apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moiras afastadas. Felizmente os meninos dormiam na esteira, por baixo do caritó onde sinha Vitória guardava o cachimbo.
Uma noite de inverno, gelada e nevoenta, cercava a criaturinha. Silêncio completo, nenhum sinal de vida nos arredores. O galo velho não cantava no poleiro, nem Fabiano roncava na cama de varas. Estes sons não interessavam Baleia mas quando o galo batia as asas e Fabiano se virava, emanações familiares revelavam-lhe a presença deles. Agora parecia que a fazenda se tinha despovoado.Baleia respirava depressa, a boca aberta, os queixos desgovernados, a língua pendente e insensível. Não sabia o que tinha sucedido. O estrondo, a pancada que recebera no quarto e a viagem difícil do barreiro ao fim do pátio desvaneciam-se no seu espírito. Provavelmente estava na cozinha, entre as pedras que serviam de trempe.
Antes de se deitar, sinha Vitória retirava dali os carvões e a cinza, varria com um molho de vassourinha o chão queimado, e aquilo ficava um bom lugar para cachorro descansar. O calor afugentava as pulgas, a terra se amaciava. E, findos os cochilos, numerosos preás corriam e saltavam, um formigueiro de preás invadia a cozinha.
A tremura subia, deixava a barriga e chegava ao peito de Baleia. Do peito para trás era tudo insensibilidade e esquecimento. Mas o resto do corpo se arrepiava, espinhos de mandacaru penetravam na carne meio comida pela doença. Baleia encostava a cabecinha fatigada na pedra. A pedra estava fria, certamente sinha Vitória tinha deixado o fogo apagar-se muito cedo.Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.
(Graciliano Ramos)

segunda-feira, março 27, 2006

Humor de cão


TPM, abuso variado por motivos diversos, e eis que há três dias tou com um humor de cão. Ontem me irritei e troquei a foto sorridente do Orkut por essa que ilustra o post (e ainda fui boazinha, era pra ter posto coisa pior). Aí hoje, André, meu coleguinha lindinho da faculdade, entra lá e põe um recadinho fofo - "talvez melhore o seu humor" - junto com
este link (Odair José, 'Eu vou tirar você deste lugar'). Pior é que há dias minha trilha sonora é esta (Núbia Lafaiete, 'Fracasso'). Ô vida, ô dia, ô azar...

quinta-feira, março 23, 2006

A vida flui...

Ano passado, por essas horas, minha sobrinha estava pra nascer e eu torcia muito para que fosse num 23 de março, dia do aniversário de vovó Nagicina, falecida em 2002.

Era como se eu tentasse substituir uma perda por um grande presente. Luiza foi sabida e nasceu no dia 24, perto o suficiente pra eu fazer a associação entre as duas, mas marcando a data dela mesma, como ser humano único.

Hoje, penso em ambas, e celebro a existência delas. O sorriso e a alegria de minha sobrinha, que faz aniversário amanhã. E a presença perene de minha avó na vida de todos que a conheceram.

terça-feira, março 21, 2006

Uruca!!!

Afe. Primeiro, queimou a fonte do pc; depois o mouse ficou ruim. Aí eu pedi pro meu amigo Dudu reinstalar o windows aqui de casa, achando que o problema era esse. Não resolveu. Veio o técnico, em cima da hora de eu sair, e consertou o mouse - mas o sistema continuou cheio de bugs. Sexta, o ônibus quebrou na volta de Caruaru e eu só cheguei em casa às 2h da manhã. Sábado Dudu veio, e ajeitou o pc - mas aí, deu o tilt no Blogger e eu fiquei sem conseguir postar nada! Que uruca...
Bom, entre tantas coisas queria deixar um beijo atrasado pra minhas amigas do ISC, Gigi e Lulu; se lerem aqui, saberão que pensei em vocês em seus aniversários e estou com saudades! Também deixo um cheiro pra Cris Tejo, e um prévio pra Serginho, que faz anos dia 22. Depois eu escrevo mais decentemente. Minha vida tá meio sem graça, nada de interessante acontecendo pra eu contar...

domingo, março 19, 2006

Bibi vem aí

Soube na sexta: minha afilhada será uma menina, e vai se chamar Ana Beatriz. Dadá e Rilton estão felicíssimos e eu também. Agora o quarto não vai ser mais com o tema do time do Santa Cruz (êêê), mas baseado nesse poeminha lindo que transcrevo aí embaixo.

A BAILARINA (Cecília Meireles)
Esta menina tão pequenina q
uer ser bailarina.
Não conhece nem dó nem ré, mas sabe ficar na ponta do pé.
Não conhece nem mi nem fá, mas inclina o corpo para cá e para lá.
ão conhece nem lá nem si, mas fecha os olhos e sorri
Roda, roda, roda com os bracinhos no ar, e não fica tonta nem sai do lugar.
Põe no cabelo uma estrela e um véu, e diz que caiu do céu.
Esta menina tão pequenina quer ser bailarina.
Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.

domingo, março 12, 2006

Relembrança

Tou com quatro turmas e três disciplinas pra ensinar, e às vezes me perco no meio disso. É muita gente e eu me agonio de não saber com quem/pra quem estou falando (uma das turmas tem quase 80 pessoas!). Odeio essa impessoalidade!, como fico danada quando estou lá, falando, e a galera fica conversando, ou tentando enrolar... Às vezes a paciência vai pro dedão do pé e a vontade que tenho é dizer, "minha gente, quem não tiver a fim de aula que pegue o beco"... Mas aí, eu lembro de mim mesma quando estudante, e vejo que eu era muito pior.
Não, eu não era relapsa. Quando encontrava uma matéria que me interessasse ou um professor que me estimulasse, era a mais atenta e estudiosa das criaturas. O problema é que entrei na universidade com 16 anos e quase nenhum juízo, e um enorme desejo de me sociabilizar não só com o povo do meu curso, mas com a UFPE inteira - e isso às vezes chocava com as aulas em si...
Levei pau em Sociologia porque preferia ficar ouvindo Siba tocar violão embaixo do prédio do CAC (quem não preferiria?).
Dormia nas aulas de Reportagem, quando o professor passava uns vídeos chatíssimos lá na frente da sala.
Fazia enquetes pornográficas paralelas na aula de Entrevista.
Botava apelidos de desenho animado nos professores: Homer Simpson, Tutubarão, Rosinha.
Descobri um velho que plantava e vendia frutas dentro do campus, e levava uma saca de banana e pitomba pra 'almoçar' (e pra fazer guerra com as cascas depois, é claro).
Mas o pior foi na aula de um professor que até hoje é meu amigo e que, pra mal dos meus pecados, costumo encontrar sempre que vou a algum congresso de pesquisa em comunicação.
Não vou dar nome aos bois: o que importa, nessa história que vou contar, é que era janeiro quase fevereiro, um calor desgraçado, e a nossa turma do terceiro período vinha tendo aula por culpa de mais uma das greves das universidades federais.
Era de tarde, e além da quentura, ou por causa dela mesma, a gente queria ir embora pro Bar do Bigode, boteco dos mais fuleiros que ficava logo na saída do campus (eu não gostava de cerveja e passei a odiar por causa do Bigode, que só servia a dita cuja quente, e com salgadinho kinito's como única opção de tira-gosto. Mas é que a turma do sétimo período - onde meu paquera e o de minha melhor amiga estudavam - largava mais cedo às terças, e por isso eu e ela combinamos que toda terça era "sábado").
Numa terça específica, o calor matando, as cigarras do lado de fora da sala de redação começaram a fazer uma algazarra tremenda e o professor resolveu dispensar a turma. Na aula seguinte, tive a brilhante idéia de "ajudar" a bicharada: si-si-si-si-si-si-si... "Elas tão danadas hoje, hein?", disse o professor que falava baixinho e se resignou a encerrar a aula mais uma vez. E mais outra. Acho que foram umas três aulas abreviadas, até o dia em que elas pararam e eu continuei. Fiquei azul. O mestre me lançou um olhar de quem estava entendendo tudo, e até hoje, quase quinze anos depois, não pode me encontrar sem abrir um sorriso enorme.
Porque você pediu uma canção para cantar
Como a cigarra arrebenta de tanta luz
E enche de som o ar
Porque a formiga é a melhor amiga da cigarra
Raízes da mesma fábula que ela arranha
Tece e espalha no ar
Porque ainda é inverno em nosso coração
Essa canção é para cantar
Como a cigarra acende o verão...

quarta-feira, março 08, 2006

Bom dia


Bom dia aos que sorriem pelo sol que nasceu, pela lua que virá e o arco-íris inventado;

Bom dia aos que sambam mesmo parados;
Bom dia aos que copiam as asas dos passarinhos e abrem os braços em laços abraços;
Bom dia aos que têm algodão nos passos;
Bom dia aos que garimpam em qualquer canto do dia um motivo para sorrir;
Bom dia aos que se dividem sem partir;
Bom dia aos que dançam e cantam no chuveiro a sexta-feira de todo dia;
Bom dia aos que lêem qualquer poesia;
Bom dia aos que levantam a sobrancelha para um aceno qualquer na rua;
Bom dia aos que festejam a felicidade como se fosse somente sua;
Bom dia aos que dão bom dia;
Bom dia antes que tardia;
Bom dia aos que pensam em voar de asa delta;
Bom dia aos mineiros, africanos, selenitas e celtas;
Bom dia aos que dão de ombros, joelhos e cotovelos para uma mal humorada careta;
Bom dia aos que sugam cerveja como bezerrinho na teta;
Bom dia aos que viajam com os pés no chão e os olhos fechados;
Bom dia aos que mesmo sozinhos sentem-se amados;
Bom dia aos que fazem um minuto de silêncio e depois gargalham;
Bom dia aos que engordam, emagrecem, mas nunca malham;
Bom dia aos que acreditam no beijo como cura de qualquer moléstia do coração;
Bom dia aos que tem coração, aos outros não;
Bom dia aos que levantam da cama, do chão ou das unhas de um amante;
Bom dia aos que brilham os olhos mais que diamante;
Bom dia aos que sangram vontades como se a vida fosse um açoite;
Bom dia, mesmo que seja noite.
(
Alisson Villa)

terça-feira, março 07, 2006

Susto


Quase na hora da aula, já no meio do caminho, minha cabeça começa a doer, parecendo que ia explodir. Suor frio, dor na nuca, olhos doloridos como se perfurados por mil agulhas, ânsia de vômito. Eu, que já tinha sentido isso, suspeitei: pressão alta. E como estava perto, fui ao Agamenon Magalhães, um hospital público no bairro vizinho.
É, eu não tenho plano de saúde. Faz tempo que falta dinheiro. Não tenho plano, e não tenho tanta coisa que ia pagar com o salário do mês que ainda não saiu... não paguei o condomínio, nem a conta do cartão, nem comprei as muitas coisinhas que faltam pra ajeitar minha casa - ventilador, lixeira, tampa de privada, caixa de som, bebedouro, colchão...
Me doeu chegar no hospital, toda arrumadinha (eu ia dar aula!) e sentir o cheiro ruim do povo amontoado na emergência, a cara deles olhando pra mim. Menina burguesa, fresca, criada com vó? Talvez, mas não aguentei, dei meia volta e fui pro hospital privado que fica colado à minha casa - só pra ouvir que seriam R$ 250 (consulta e atendimento ambulatorial). Desisti na hora!
Subi em casa, larguei os livros, botei uma roupa mais confortável e voltei pro primeiro hospital, resignada a perder a noite. Qual o que!, em cinco minutos estava sendo medicada, e a enfermeira, sorridente no meio daquele caos, foi a criatura que melhor pegou minha veia ao longo de 32 anos. Nem senti!
Hospital público é aquela coisa, gente amontoada no corredor, e eu me sentindo num filme de Almodóvar. Passou um doidinho com cara engraçada, arregalou os olhos e ficou lá, me espiando. Uma buchudinha ficou encantada com minha sandália de lantejoulas. Tinha mais três pessoas com crise de hipertensão e ficamos conversando sobre o que estávamos sentindo. Juro: relaxei e me diverti como pude, no meio da confusão. Claro, na hora não tinha ninguém morrendo, ou baleado, ou sentindo muita dor. E privacidade, que é bom, nenhuma: na sala do médico, ou na enfermaria, a mão do povo girava a maçaneta e abria, sem cerimônia.
Me mediquei, peguei um atestado e vim pra casa, onde cozinhei uma canja e estou descansando. Da aventura, aprendi três coisas: 1) Tenho direito a usar o SUS se quiser, e ninguém vai me tratar melhor ou pior que aos outros; 2) Preciso me planejar pra enfim ter um plano de saúde, porque se fosse algo sério teria que ficar internada lá, e isso não seria nada divertido; 3) Tenho que arranjar um jeito de voltar a nadar, organizar minha vida e me estressar menos. O tensiômetro marcou 18x12.

I´m back!


Tou em casa, tou com pc instalado, tou com internet rápida (a rádio, pia paí que chique!). Agora só falta ter coisas interessantes pra contar... Mas prometo que não vou deixar meu espacinho abandonado muito tempo! E obrigada pelo carinho de vocês. Beijão!

Foliã


Titia quase não foi pra rua neste carnaval, mas teve gente que aproveitou bem... Hehehe!

Olha aí Luiza se preparando pro Galo da Madrugada!

Desassombro


Imaginassem as amendoeiras
que estamos em pleno outono.
Vestem-se como.

Púrpura, ouro,
estão perfeitas como estão:
erradas.

Pudesse um poema, um amor,
pudesse qualquer esperança
viver assim o engano:

beleza, beleza,
beleza,
mais nada.


Eucanaã Ferraz (roubado de Dé)

domingo, março 05, 2006

Morta viva


Meu Deus, como tou horrorosa! Essa foto aí foi tirada no aniversário de Martinha, na última sexta, depois que cheguei adoidada de Caruaru, onde fui dar aula. Um repuxo! Posto ela aqui porque reflete bem o momento agoniado que ando vivendo. Quando vim pra Recife, trouxe trabalho acumulado (frila pra fazer e artigo do doutorado pra escrever) e não imaginava encontrar serviço assim, de cara. Mas arrumei. Aula toda noite. E aí tenho tido que me virar em mil, achar jeito de escrever sem ter acesso a computador, e ao mesmo tempo fazer minha mudança... Inferno.
Ontem consegui terminar minha última grande pendência e estou mais aliviada. Mas a semana do carnaval parece que foi pior que nunca: na sexta, fui instalar meu pc e burramente não prestei atenção no estabilizador, que vinha preparado pra voltagem do Rio. Resultado: queimei a fonte do bicho, e na hora pensei ter perdido mais coisa. Fumaçou e o escambau. Aí tive que correr atrás de técnico, bem na hora em que ia pegar o ônibus pra Caruaru. Inferno! Cheguei lá, não teve aula, mas precisei ficar "na função" das 16h às 0h, que é a hora que chego de volta a Recife. No sábado um bom samaritano foi olhar o bicho, e passei o dia tentando achar uma loja que estivesse aberta, em pleno dia do Galo da Madrugada. Paguei o triplo do preço, comprei uma fonte, no domingo à tarde o rapaz foi lá e eu achei que como filha de Deus merecia dar uma espiada na festa - que amo, e não tinha curtido nada... Pois bem: fui, foi bom, mas teve briga na rua e peguei uma gripe. Ah-ham. Só na quarta me senti melhorzinha e fui escrever o bendito artigo, que tinha amanhã como prazo irrevogável (terminei ontem, como disse. Afe, ufa!).
Na quinta, completamente lisa, fui à Caixa Econômica tentar trocar um cheque que recebi. Duas horas na fila. Na hora de pagar, o filha da puta do caixa resolveu contar todo o dinheiro que tinha na gaveta. Três vezes. Saí de lá bufando e, quando cheguei ao ponto do ônibus da faculdade, ele estava dobrando a esquina. Peguei o primeiro táxi que passou (mas demorou a passar) e persegui o ônibus até gastar os R$ 50 que tinha em mãos (e ainda fiquei devendo R$ 20 a um taxista não muito feliz). Na sexta, dia de receber, meu contracheque não saiu. Estou pensando seriamente em tomar um banho de arruda! Dá pra entender a minha cara na foto, agora?
Bom, pelo menos estou de volta à minha casinha, embora lá ainda não tenha acesso à internet. Dormindo meio cercada de caixotes, mas no meu espaço, e isso é uma delícia de se saber... No meio de tanta confusão, não tenho conseguido atualizar o blogue mas, quando dá, espio os recadinhos - e fico sempre feliz de me sentir visitada e querida. Acho que minha vida se normaliza dentro dos próximos quinze dias. E aí o fluxo aqui, certamente, também. Beijos pra vocês...

Um cheiro pra Leo


Quinta feira foi aniversário dele, e eu aqui tão longe. Deixo aqui meu beijo pra esse menino grande e maluco, que tem um sorriso maior que ele. Gosto de tu, viu? Muito, muito. Tou morrendo de saudade de você.