quarta-feira, novembro 30, 2005

Top, top, top - ugh...


Domingo fui ao Top Fashion Bazar do Città América. Traduzindo: fui à ‘liquidação’ das lojas de grife aqui do Rio, num shopping da Barra da Tijuca que ficou famoso anos atrás por exibir do lado de fora ‘ícones’ da terra de Tio Sam: uma réplica da estátua da liberdade, um violão-banjo do velho oeste, coisinhas assim. Agora, me digam, o que isso tem a ver comigo, contumaz consumidora do Mercado de São José e, na falta dele, do meu amado Saara? Fui acompanhar Tati, amiga querida que calça e veste 38. Ela pega o carro do marido, dirigimos horas, enfrentamos uma blitz no morro do Vidigal, e enfim chegamos lá. Primeira mancada: o troço fecha pra almoço, coisa que nunca vi noutros lugares mas aqui no Rio parece ser normal, junto com o comércio não funcionar no sábado à tarde pra galera poder curtir a praia na boa. Tudo bem, esperamos. Às 14h, reabriram as portas do inferno e eu, pobre mortal, abandonei qualquer esperança de achar qualquer coisa que me servisse ali (o que não foi de todo mau, fiz uma boa economia). Como Tati queria comprar várias coisas pra ela, pro marido, pro periquito e pro papagaio, resolvemos nos separar. Aí eu senti o que é ser um ser invisível, embora seja assim alta e larga. Entrava nas lojas e as vendedoras, todas com cara de enfadadas, nem chegavam junto. Cavendish, Mariazinha, Yes Brazil, Farm, Osklen, Lenny, Salinas, todos esses nomes que não me dizem grande coisa piscando ao meu redor. E a classe média ensandecida, salivando pela oportunidade de comprar por R$ 70 aquela camisetinha sem graça que custa R$ 200 na butique de Ipanema. Voltei pra casa quase incólume da experiência, portando um chinelinho fuleiro mas barato e bonitinho que, graças a Deus, não tem nenhum nome aparente e vou poder usar.

sexta-feira, novembro 25, 2005

Esse é dos meus...


"Eu gosto muito de conversar com os amigos, mas conversar com desconhecido, isso é que é bom mesmo, porque tudo é surpresa e a gente nunca sabe o que está por vir, cada ser humano é um grande mistério" (Samarone)

Do vermelho


Vermelho é mês que escorre pelas pernas. Vermelho é olho piscando insone na ausência. Sim, dores se vestem de vermelho. Laços se vestem de vermelho. Vermelho é lasca de esmalte no canto do desejo, o mesmo vermelho que atravessa rubras carnes e enrubesce brancas faces. Beijos se vestem de vermelho. Adeus desmancha vermelho. Vermelho é pedaço de pano escondendo o impublicável. O tesão é vermelho. Ódio é vermelho. O nu é vermelho. O cheiro do amor é vermelho. Vermelho tem voz de sirene. Vermelho tem pernas de vedete. Vermelho tranca-ruas. Vermelho come criancinhas. Vermelho passeia por entre dentros, por entre todos, por entre ricos e solitários. Vermelho, quando vai, traz o mar pra dentro do peito. Vermelho, quando vem, esquenta pés descalços. Nada vive sem o vermelho. Nada morre sem o vermelho. Nada pode ser, se quer ser algo mais que um pouco menos do que nada, se não for vermelho. Vermelho é o rei das cores. Por isso seu manto é vermelho. Vermelho é cor de tudo. De tudo que é. Do que foi. Do que devia ter sido. Do que um dia vai ser. Porque o ser sempre é vermelho.

(Por André Gonçalves)

quinta-feira, novembro 24, 2005

Essas coisas só acontecem comigo!


Pisei num despacho pra pomba-gira, só pode ser! Saio de casa me sentindo horrorosa, enfiada num vestido preto até relativamente comportado (este aqui, que na foto mal aparece. Era pra ser ‘de festa’ mas como quase nada meu cabe mais em mim, já entrou pro batente e está até fubento e folote – quem não souber do que se trata, procure um dicionário de pernambuquês). Pois do percurso do metrô até o trabalho, levei uma encarada de um velho, um ‘shhhh’ de um camelô e um ‘bom dia’ de um cara esquisito de maleta 007. Ô vida.
Aí, na hora do almoço, fui comer com Lu e Dri aqui perto, num restaurante que tem um segundo andar. Sentei pertinho da escada, conversamos horas. Depois de séculos, sobe uma mocinha sem-graça que me diz que ‘tá dando pra ver tudo’ (termo abrangente, mas eu não quis averiguar a dimensão do que ela estava afirmando) e que ‘viu gente lá embaixo comentando”. Saí correndo do lugar, humilhada. E tá resolvido: não uso mais essa roupa, não como mais nesse restaurante, e só agora só venho trabalhar de calça! Que vergonha, meu Deus.

Casa de Farinha


Ontem fui a um show no Teatro Rival, com minha amiga Sara, jornalista mestranda da UFRJ, niteroiense nascida no Ceará e antenada no mundo. Era um tal de Casa de Farinha e eu, como boa pernambucana preconceituosa que sou, já fui meio que num 'ixe, mais um grupo de sulista querendo tocar maracatu'. Do tipo 'não vi e já sei que não presta'. Pois sabem que gostei? Como a pretensão deles não parece ser a de ser 'representantes da diversidade folclórica', o som é divertido, dançante... Sara é das minhas: mal começou a primeira música, tiramos os sapatos, abrimos o salão e pulamos como duas malucas. Teve até ciranda...

terça-feira, novembro 22, 2005

...


Sou tantas, muitas, nenhuma. Não me sei. Sei só que sou dramática e minha vida é feita de extremos – e eu sou inteira na raiva, na dor, na alegria. Choro lendo ‘Bianca’, bato as asas em desespero dentro da minha gaiolinha carioca, quero tanto desdobrar minhas asas. Quero meu espaço, quero minha vida, mas não sei tomar conta de mim. Recife parece estranho, no Rio sou pra sempre paraíba. O medo que me dá é que o híbrido é sempre um ser estéril e no meio desses cruzamentos todos, temo me perder.
Eu quero nascer, quero viver / Deixe-me ir preciso andar /Vou por aí a procurar / Rir pra não chorar / Se alguém por mim perguntar / Diga que eu só vou voltar / Quando eu me encontrar...
*Candeia sabe das coisas, tomara que eu me ache logo!

segunda-feira, novembro 21, 2005

De volta

Cheguei hoje de madrugada (5 da matina!) porque o maldito vôo atrasou. O Rio continua lindo, e a minha saudade de Recife segue enorme. Ontem foi legal, tirei fotinha de divulgação do livro no Parque Treze de Maio (ê, vexame!) e vi pessoas queridas (Val, Toni, Biu, Orla, Josy e Pedro). Dudu mais uma vez fez o velho ritual de me levar no aeroporto e eu subi no avião triste, mas acarinhada pelo cuidado constante. Pelo menos desta vez tenho o consolo de que em janeiro estarei de volta, pra lançar o bendito livro (até lá, tenho que arranjar $ pra isso). Já vim trabalhar, tou retomando a vidinha carioca...

Cariocas são bonitos
Cariocas são bacanas
Cariocas são sacanas
Cariocas são dourados
Cariocas são modernos
Cariocas são espertos
Cariocas são diretos
Cariocas não gostam de dias nublados


Cariocas nascem bambas
Cariocas nascem craques
Cariocas têm sotaque
Cariocas são alegres
Cariocas são atentos
Cariocas são tão sexys
Cariocas são tão claros
Cariocas não gostam de sinal fechado...

quinta-feira, novembro 17, 2005

Banzo


Parece que quando você passa muito tempo fora, o familiar se torna estranho. Olho pra Recife e não me reconheço, e isso me deixa infeliz. Os lugares que frequentava não existem mais, ou já não prestam; e isso vale do supermercado ao barzinho. Tudo é uma experiência meio nova, embora nem sempre ruim, devo ressaltar. A cidade me invade pelos cinco sentidos. O ar de Recife é mais fino, a claridade dói na vista, o céu é quase branco, lavado. O cheiro de mangue, de jambo, dos jasmins de Olinda chega em mim fisicamente, quase como uma pancada. Aqui sinto a seda prateada dos cabelos da minha avó que não me reconhece mais, o cetim da pele de Luiza que está me estranhando menos, e a maciez de outros braços e abraços que me apertam com gosto. Aqui como o pudim de Julia, o risoto de Dadá, a tapioca da Sé, e engulo a saudade. Ouço o sotaque cantado dos meus conterrâneos, que me soa mais alto, mais aberto, mais luminoso que nunca, e as risadas dos meus amigos tilintam como sinos. Felicidade agridoce, essa, de passar dez dias como um relâmpago num lugar onde não tenho mais lugar, mas que é meu lar eternamente.

'Chauffeur'


Surpresa boa aqui em Recife: o 'boi-bufa' véio que foi de vovó Nagicina (e, por mais de ano, meu), foi consertado e está sendo usado por Gabriel e Guilherme. É o mesmo uno vermelho 1994 que tinha problema de esquentar não só a cebolinha, mas a turma da mônica inteira, e me fazia andar de garrafa pet em punho. Tá, ele é perronha, ruim de manobrar. Tá, ele não tem ar e aqui tá fazendo um calor infernal. Mas eu tinha esquecido da liberdade que ter um carro significa - ainda mais que a casa de Gabi, onde estou hospedada, fica num lugar fora de mão de onde preciso pegar dois ônibus para praticamente qualquer destino. Quando ele vai trabalhar, eu às vezes pego o bicho. Que nem nessa foto, tirada no celular do Dudu das Meninas, quando estávamos indo ao shopping assistir ao (lindo) Noiva Cadáver.

terça-feira, novembro 15, 2005

Farra




Não dá pra descrever... Mais fotos aqui.

segunda-feira, novembro 14, 2005

O encontro com Luiza


Cheguei, ela fez bico, não foi com a minha cara.
Eu trouxe presentes: um chocalho de cavalo-marinho, um Cebolinha, montes de chiquinhas, tecido pra fazer vestido, meia com joaninhas aplicadas, shortinho com frente única.
Mas ela só gostou da minha mala.

domingo, novembro 13, 2005

Peripécias


Perdi o vôo pra Recife. Fiquei muito puta da vida, foi por causa de uma confusão de fuso horário na hora de comprar a passagem. Era pra eu ter embarcado do dia 10 pro dia 11, e não do dia 11 pro dia 12. Quando cheguei no aeroporto, o vôo tinha sido no dia anterior e eu só poderia embarcar se pagasse R$ 430 de multa e diferença tarifária (!!!) . Depois de muito chorar, consegui uma passagem pro mesmo vôo, do sábado pro domingo - aí, "só" gastei R$ 115. Fora os táxis, que custam R$ 30 a corrida. Maior prejuízo.
Apesar de puta da vida, passei o sábado com Queops e Malu e foi divertido. Batemos perna em Santa Teresa, assistimos "Cinema, Aspirinas e Urubus" no Odeon, e ela tirou essa fotinha daí com o celular. Até que prestou...
Uma da manhã, rumei de novo pro Galeão. A sensação de déjà vu (não sei se se escreve assim...) foi incrível. Peguei o mesmo motorista de táxi da sexta-feira, na mesma hora, no mesmo lugar. Chegando no aeroporto, o funcionário da Gol que me atendeu foi o mesmo, no mesmo box. Perguntou rindo se eu tava mais calma e se tava com raiva dele - e eu respondi que a raiva não era dele, mas da situação... Foi simpático e sorridente, apesar de tudo, e na verdade não tinha a menor culpa do ocorrido. Eu tava com a mesma roupa da sexta, pois não quis mexer na mala e acabei passando o dia com uma roupa velha e feiosa que eu não trouxe na viagem.
Pois é, amigos. Enfim, cheguei. Jink deu mil pulos quando me viu, enlouquecido, e Julia já me pôs a par da vida dela. Regina, Gabi e Luiza chegam da praia à tarde e eu já tou agendando visitas a pessoas queridas, como minha vovó. Agora vou tomar banho e dormir um pouquinho, que estou um bagaço só. Entre mortos e feridos, e bastante dinheiro gasto, estou na minha terra, e meu coração canta Antonio Maria e Luiz Gonzaga.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Consulta

Ontem fui no médico, tou com uma anemia braba. Também tou meio estressada e, se tivesse um diagnóstico pra isso, acho que ele diria que tou com banzo. Ou, como diz Evinha, 'ando negligenciando minha mulher selvagem'. Enfim, dentro das mazelas todas, ainda deu pr'eu ficar feliz de não ter nada mais alterado (nem glicose, nem colesterol, nem tireóide), mesmo tendo engordado 8kg desde março, vivendo à base de coxinha e chocolate.
"E aí, doutor, vai passar um regime pra mim?"
"Não, você tá precisando é de ser feliz".
É um homem sábio. Mas, enquanto isso, vou tomando ferro...

quarta-feira, novembro 09, 2005

Chego no sábado 12, volto no domingo 20...

Tanta saudade preservada num velho baú de prata dentro de mim ...

segunda-feira, novembro 07, 2005

Bibinha


Só de pensar que em poucos dias vou poder beijar essa coisinha, meu coração dança rumba!

sexta-feira, novembro 04, 2005

Cabeleira


Tou passando com Queops - meu hóspede por alguns dias! - no Largo do Machado, em direção ao Centro Cultural Telemar, onde o Media Sana fez show ontem. Ele, como sempre, dando uma de seu Lunga e reclamando do sotaque dos cariocas, que acha feio. Pois não é que passa um carro de som, desses que vendem pamonha, com um malandro nativo que berra na hora em que a gente tá atravessando o sinal?
"CABÊÊALOUU"
Ele tá puto até agora!

Gandaia


Esta foto aí foi tirada na véspera do feriado, no Pagode do Negão (Clube Guanabara). Mais uma comemoração Sambamante! Saibam mais e vejam fotos extras aqui!
Nesta, estou bem ladeada por Ísis e Fátima.

Tilt de novo

Aê, gente. O meu computador aparentemente pegou um vírus, não quer mais ligar e eu vou ficar sem acesso a meus emails pessoais. Recados aqui no blogue ou por telefone, ok?
Vou dar umas checadas na caixa postal de vez em quando...
Ê, saco, isso. Segunda vez que acontece em cerca de um mês. O carinha que consertou meu computador 'esqueceu' de botar anti-vírus...

Alegria


Chegou ontem o livro que Mrs. Jones, minha amiga Fá, me mandou da Inglaterra. Fala de samba e veio cheio de lindos cartõezinhos multicoloridos dentro. Papai Noel chegou mais cedo este ano, fiquei feliz da vida! Obrigada pelo presente, querida.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Angústia


Eu machuco sem querer quem está por perto, eu me machuco de ver os outros se machucarem, eu me desespero e nem sei o motivo de estar desesperada, eu não sei nada de mim que possa usar como desculpa, eu sou um porco espinho que precisa muito de abraços.

Mariana "Rossi" - ou Meus Fãs Garçons - ou Caboco só desce com destilado

Eu não sei o que acontece, mas se tem uma categoria de gente que gosta de mim, são os garçons.

Um dos mais queridos se chama Pereira, e trabalha, ou trabalhava, no Garrafus (ô nome feio, mas dizem que tem história) – bar do lendário Sama, que fica bem pertinho da minha casa em Recife, e era um pouco minha casa, também. Pereira sempre abria o sorrisão quando me via, e perguntava: "o de sempre, Mari?" - e me trazia uma coca-light e um caldinho de feijão.
Toda quinta eu batia ponto no Garrafus, por causa da Quinta do Jazz, evento promovido pelos queridos Evandro e Thelmo e freqüentado por gente linda como meu amigo Orlando. Meus últimos ‘eventos’ em Recife – aniversário, despedida – foram todos no Garrafus.


Eu só fui entender como Pereira se importava comigo no fim do ano passado, quando passei uns dias na terrinha e enlouqueci de alegria. Era aniversário de minha amiga Andreza e tomei sete (sete!) capiroscas de vodca. Aí Pereira se desesperou quando me viu lá, malemolente e cheia de falta de juízo nas idéias. "Mari, tá dirigindo?", perguntou na quarta ou quinta dose. Quando soube que não, trouxe mais duas e depois se negou a servir mais. Não adiantou chantagear - "Pereira, vossssscê é o garxom, vôdedar vosssscê pra Tonho (Tonho é o irmão e sócio de Sama), onde xxá se ffviu deixxxar de trager o que o cliente isssssstá pedindo?" Não teve argumento. Graças a isso, eu voltei pra casa cambaleando, me segurando nos postes, mas ainda consciente dos meus atos. Quer dizer, mais ou menos. Isso só aconteceu depois da bateria da escola de samba ter ido embora (o que não me impediu de requebrar mais um dez minutos, por inércia), de eu ter enchido o saco de Tonho pra tocar "I will survive", de eu ter sentado numa mesa com completos desconhecidos que portavam uma zabumba e um pandeiro e ter puxado, cantado e dançado toooooooodos os cocos e cirandas que meus neurônios em combustão conseguiram lembrar... Vergonha total, eu sei, mas enfim, nenhum cachorro lambeu minha boca e, ao que eu me lembre, ainda posso voltar no Garrafus sem maiores sofrimentos e sem risco de ser linchada...
Outro garçom meu amigo é Baixinho, pedaço de cearense de um metro e meio que trabalha no Sonho Lindo, um pé-sujo que fica embaixo do meu prédio. Abre o riso quando me vê, toda manhã, e me dá bom-dia. À noite, se for o caso, ele dá o alarme: “não come isso não”, sussurra, se eu resolver pedir algum salgado que já foi produzido há muito tempo e está adquirindo coloração duvidosa. Quando eu volto das baladas, larga qualquer cliente pra me vender água ou coca-cola (é notório, não gosto de cerveja). E um dia desses me deu a maior prova de amor: me chamou correndo da rua, “ei, ei!”, e enfiou um taco de bolo de chocolate na minha boca – “prova aí, vê se tá bom!”
A Cinelândia, aqui no Rio, virou minha casa, graças a Duda e a Nininho, que me apresentaram ao Doradinho, que tem um espetinho legal e um banheiro pavoroso, onde as baratas morrem ao entrar (não sei se afogadas, não sei se pelo cheiro – e não sei como é que eu tenho coragem de dizer que gosto da comida de um lugar que tem um banheiro desses, mas gosto). Lá tem seu Amaro, conterrâneo que só me chama de ‘princesa’ e grita de longe "já chegaram" ou "não tão aqui ainda não", pra avisar da presença ou ausência de meus pariceiros. Quando eu não vou, pergunta por mim. E já aprendeu a não me servir mais de duas doses de gengibre por noite (é um troço à base de cachaça que desce quente; a primeira dose torna a fala mole, a segunda deixa o nariz dormente, e a terceira me faz querer ficar apostando coisas com meus amigos desesperados – quer ver como eu vou naquela mesa, dizer àquele cara que ele é gostoso?, quer ver como eu vou dançar conga-la-conga em cima da tampa daquele bueiro? – ou então entrar em crise existencial – ninguém me dá atenção, ninguém gosta de mim...).

Esses são os que me protegem da birita. Porque há os que me ajudam a cair na esparrela. E com a minha cara de pau, que tá se tornando cada dia mais notória, venho me tornando uma expert em conseguir bebida grátis. Curioso é que elas sempre têm nomes exóticos: a batida de vodca com leite condensado e licor de banana do Teatro Odisséia se chama King Kong, a mistura de vodca com limonada e licor de menta do Negro Gato se chama Diabo Verde. A primeira eu tomei no show da Comadre Fulozinha, no ano passado. Fui pedindo ‘complemento’ de vodca, na maior cara dura, e o garçom achou tão engraçado que ia pondo gelo e vodca, vodca e gelo, e no fim eu não sentia mais gosto nenhum de banana no negócio – mas também não sentia muitas outras coisas, incluindo o chão que pisava, mas abafa a história.

A segunda eu tomei dia 21 de outubro, numa festa de minha amiga Kitty. Pedi lá o troço – caro, visse?, quase dez paus – e me vem uma coisa fosforecente, linda. Quando boto na boca, quase cuspo: que gosto arretado de close-up! Reclamei, claro. Aí o garçom fez um ar de riso, trouxe uma dose nova não tão carregada no licor, mas ainda assim péssima, e o resultado é que passei a noite falando mal e fazendo a bicha render ("traz mais gelo!"). Pensem que nem assim o garçom ficou com raiva de mim! Desceu até a rua quando fui embora (pra ter certeza de que eu não ia voltar?, vai saber), apertou a minha mão e por fim ainda soltou um "tchau, Mari" – e eu nem sabia que ele sabia meu nome!
O último deles é garçom de uma casa de shows cujo nome não vou dizer, porque vai que o dono entra aqui no brógui, hehehe. Lá vende uma cachaça de banana caramelada que é simplesmente deliciosa (Evandro e Zé Vaz, dois puristas, são capazes de bater em mim por eu ventilar tais preferências). Já é a terceira vez que vou lá e morro de vergonha: o rapaz vem, cumprimenta, finge que anota e me traz a bebida de graça! Como cada dose custa mais de cinco contos, desconfio que o caba esteja a fim de me ver de pilequinho, mas enfim, não tenho certeza. Da primeira vez, ainda perguntou se sou parente de fulano, dono do bar. Certo de que não sou, é só correr pro abraço: serve a cachaça na cara dura, pra espanto de outros amigos que freqüentam o lugar há anos e nunca tiveram direito a tal cortesia.

Eu posso!

Eu mereço!