sexta-feira, dezembro 30, 2005

Metas para 2006


Que neste ano novo eu redescubra tudo de bom que os 32 anteriores construíram em mim, o que vem sendo semeado há tanto tempo e eu nem sempre soube colher.
Que neste ano novo eu seja exatamente a mesma e completamente outra. Que eu saiba receber. Que eu saiba perder. Que eu saiba lembrar. Que eu saiba fluir.
Que eu reencontre os braços dos amigos que por um ano deixei de lado, sabendo que vou estar longe de outros braços que se souberam fazer queridos.
É tempo de me repartir, e de me reintegrar. De perceber em mim minhas fraquezas, e delas construir minha força. Passar a régua e, noves fora, saber que não começo do zero.

quinta-feira, dezembro 29, 2005

500° post (tinha que ser uma notícia especial)

Ligo pra Recife e me contam que Luiza falou sua primeira palavra. Três chances pra vocês adivinharem. Não, não foi 'Sport'. Nem 'tia Nana', embora isso eu esteja ansiosa pra ouvir. Ela falou... 'papá'.

Tem gente que está ainda mais abestalhada do que é, hehehe. Beijo, Bibiu!

Acesso de nostalgia

Aprendi a ler sozinha, por volta dos cinco anos. Minha mãe desconfiou de algumas perguntas sem propósito que eu fazia, e tentou me fazer ler, mas eu não quis. Aí ela me ofereceu dar uma boneca Emília, recém-lançada e objeto dos meus sonhos, se eu lesse cinco ou seis coisas tipo bola, menina, sapo, tatu. Li na hora, é claro!, ela cumpriu a promessa e a Emília me acompanha até hoje como um talismã, sentadinha na minha estante de livros.


Foi o início de uma paixão fulminante. Eu era uma menina esquisita, como podem imaginar todos os meus afilhados e sobrinhos reais ou postiços, que simplesmente odeiam quando eu chego com um, de presente (a seção infantil das livrarias ainda me atrai de forma inexplicável). Pra mim, livro ou papel e tinta eram algo maravilhoso. Eu enchia tanto a paciência da minha mãe atrás de livros, que um dia ela resolveu ‘economizar’ e comprar um lote numa editora. Ela me levou pra escolher, e voltamos com mais de vinte livrinhos pra casa. Lá chegando, não sei porque cargas d’água ela resolveu ‘regrar’ o acesso, me dando de um por um, ‘só quando eu tivesse acabado de ler’. Sorrateira, eu passei uns três dias vasculhando a casa, nos lugares mais insuspeitados. Até que achei o esconderijo. E quando minha mãe chegou, me encontrou louca de felicidade, fazendo bamburim com os livros, e teve pena de interromper minha alegria. O prazer de ter tudo aquilo pra ler, de poder tocar, cheirar, folhear aqueles livros todos, eu não esqueci até hoje e me vem à mente quando eu entro numa livraria como a Fnac, a Cultura ou a Travessa.

Onde estão os livros da minha infância, meu Deus? Não sei que fim levaram, mamãe saía dando sem minha permissão. Mas acho que eles somem sempre, acontece com todo mundo. Como disse uma amiga, é um ‘grande mistério da minha humanidade, de resto só ficou aquilo que sou’.


* Pequeno inventário da minha saudade:

Os desastres de Sofia - A Arca de Noé - Ou Isto ou Aquilo - Marcelo, Marmelo, Martelo - A vida íntima de Laura - A mulher que matou os peixes - A Bolsa Amarela - Os colegas - A fada que tinha idéias - Lúcia Já Vou Indo - Flicts - Reinações de Narizinho - Clarita da pá virada - O menino maluquinho - O menino do dedo verde - Manu, a menina que sabia ouvir - A Curiosidade Premiada - A Terra dos Meninos Pelados - O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá - Chapeuzinho Amarelo - As anedotinhas do Pasquim - As aventuras de Xisto - O Pequeno Príncipe - A árvore generosa - Oliver Twist - Poliana - O Reino Perdido do Beleléu - Lili do Rio Roncador - Memórias de um burro - O caso da borboleta Atíria - A ilha perdida - Coração de Onça - Uma menina chamada Rita.

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Encruzilhada


Ganhei ontem o ano que vem de presente: confirmaram que o contrato que tenho, e que vence dia 15 de janeiro, não será renovado. Tenho algumas possibilidades a avaliar, inclusive ficar trabalhando como free-lancer para produção de conteúdo aqui mesmo, pois contudo e por tudo, eles reconhecem a qualidade do meu texto. O vácuo que isso abre na minha vida, ainda mais nesta época do ano, é bastante assustador, mas eu tou calma. Acho. Por enquanto.

Que sítio bacana!

Ela está construindo seu próprio blogue, mas tem vergonha de mostrar. Por isso, não dou o nome nem o endereço da menina linda, 'larger than life', que escreveu o texto abaixo, e que eu quis partilhar com vocês, porque a cada dia entendo mais porque a sinto tão próxima de mim. Um beijo, querida.


"Foi assim. Pelo menos do que me lembro. Lá pelos anos 80, eu no começo da minha adolescência, hormônios em estado de ebulição, decidi ir com umas amigas ao que na época se chamava 'semana-pré' de carnaval em Boa Viagem, digo decidi mas, na verdade, foi mais o caso de mainha ter me deixado ir. Bem, naquela época não existia essa de bloco de trio elétrico, camisa de bloco, sei mais lá o que... naquela época todo mundo era da pipoca, melhor assim.
Gelinho na barriga, halls na boca, leite de rosas e cabelo lavado, eu à procura de um paquerinha, nada demais, só um sorriso já me valia a noite, pois eu também fui inocente um dia. Eis que surge, nem lembro de onde, nem como, quem aqui vou ter que chamar Bomba do Hemetério, pois apesar de carinhosamente bem lembrar do seu rosto, não tenho a menor idéia do nome dele. Não era exatamente o tipo que uma mãe de uma adolescente de classe média ia querer pra uma filha casar, mas nem tampouco meu amor por ele foi um amor homem-mulher. Ah, foi bem mais que isso.
Lembro-me bem que ele estava descalço, porque não tinha mesmo sapatos pra calçar, usava uma calça social que me parecia duas vezes o número dele e um cinturão preto que prendia com força a calça na cintura, e uma camisa velha, muito velha, daquelas tipo da Hering. Me pareceu bizarra aquela combinação de roupa. Era bem baixinho, muito magro, lembro de uns braços fininhos, de pele bem seca saindo pela camiseta. Devia ter uns 40 anos, mas pensando bem, como é que se pode deduzir a idade do sofrimento em flor? Só sei que tinha uns olhos imensos, que gritavam fome!. Ficamos amigos. Não lembro mesmo o que a gente conversava, do que ele me disse, lembro que ele falou que tinha conseguido a passagem do ônibus pra conhecer o carnaval e que só voltaria pra Bomba do Hemetério quando o carnaval acabasse e ele conseguisse a passagem de volta. Ficava por ali durante o dia, olhando os prédios bonitos.
Bem, o que aconteceu foi que marquei com ele todas as noites na mesma barraca de coco, pro divertimento geral das minhas amigas... E um dia por algum motivo não pude ir, no dia seguinte quando reapareci, Bomba (acho que já estávamos íntimos) teve a maior crise de choro quando me viu, com muitas lágrimas mesmo, que vexame! Eu sabia que ele era um atraso pra as minhas paquerinhas e sabia tambem que nunca mais ia vê-lo, mas eu também sentia o quanto eu era importante pra ele, isso eu sentia mesmo. A semana-pré acabou, não lembro como foi o nosso adeus, talvez ele já nem se lembre mais de mim, sabe-se lá o que o futuro reservou praquele homem único na semelhança de um Brasil com fome. Mas, eu nunca me esqueci dele, e o amei à minha maneira. O intocável da mais baixa casta em Arundati Roy, a personificação da geografia da fome de Josué de Castro.O amei por ter me ensinado que não se pode ver a miséria como quem vê uma fileira de formiga. Cada ser é único. E como disse Guimarães Rosa: a colheita é comum, mas o capinar é sozinho"

terça-feira, dezembro 27, 2005

A cara do meu filho

Enfim, ele toma corpo, ou, por enquanto, só cara, que Val ainda não me mandou o "miolo" pr'eu ver... À distância, na minha ausência, meu livro vai sendo preparado. E não dá pra vocês imaginarem a alegria que eu tive hoje de manhã, ao abrir minha caixa de mensagens. Seguem uns pedacinhos da capa, pra vocês partilharem comigo este momento.

Acima: pra os que não conhecem, da esquerda pra direita, eles, a matéria-prima da minha pesquisa - João, Manoel e Maciel, avô, filho e neto, três pernambucanos arretados. Com cada um desenvolvi um tipo diferente de relação, com todos eles tive oportunidade de crescer como pesquisadora e como gente.

Este pedaço da contracapa é um excerto da apresentação escrita por Isabel Guillén, historiadora da UFPE que é especialista em mídia e cultura popular e em história oral. Durante algum tempo, pensei nela como possível orientadora, num possível doutorado em História, lá mesmo em Pernambuco. Foi uma grande alegria tê-la apresentando - e elogiando - meu trabalho.

Esse pedacinho daí é a orelha, escrita por mim. Tive que falar sobre mim mesma e isso não é muito fácil, até porque às vezes erro a mão e descambo pra informalidade... Hehehe. Definitivamente: não sou uma mulher séria!


Bom, por último, deixo pra vocês - num close absoluto! - a imagem linda que Toni conseguiu fazer de mim, no último domingo que passei em Recife, em novembro passado - tirada no meio de um Parque Treze de Maio lotado de crianças e namorados, gente querendo aparecer na foto, palhaços, patos, pipoqueiros, e eu lá tímida e querendo morrer, com Tâmisa, Biu, Val e Orla rindo junto, e eu quase chorando, tendo que fazer pose e mil caras e bocas, sina triste de quem odeia ser modelo mas adora empunhar uma máquina... E no fim saí linda e (quase) loira, sem nenhum sinal visível de sofrimento, toda cor-de-rosa no meio de um verde bucólico e insuspeitado, transmitindo tanta paz e felicidade que agora até virei meio poeta, vejam só!

segunda-feira, dezembro 26, 2005

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Parabéns pra Nininho


Segunda feira é o aniversário de meu amigo Nininho, o mala sem alça mais ingênuo e o tímido mais amostrado deste Rio de Janeiro. Aê, Cabeça, parabéns! Você mora no meu coração!


"Deus fez esse menino com a pele bem preta, só pra poder destacar o sorriso dele. O sorriso de Nininho é quente, é luz néon que fosforece em milhões de megawatts e ilumina a Lapa, o Rio de Janeiro e o Brasil. Deus também fez ele ser moleque, safado, cheio do gingado e do caô, mas com um coração de chocolate, derretido e doce. Que São Jorge te proteja e as estrelinhas do céu, tuas pariceiras, brilhem junto com você. Gosto muito de tu! Salve, simpatia. Um cheiro"
*Declaração de amor já antiga, que postei no Orkut.

Natal



Estou indo passar o Natal em Sampa, com meus primos Lu, Dani e minha tia Maninha. Sigo amanhã e volto domingo, de bumba mesmo, que a passagem da ponte aérea tava custando quase 300 pilas cada trecho.

Acho que vai ser bom, faz mais de dez anos que não vou lá na cidade, e minha tia insistiu muito na minha presença. Engraçado, em casa nunca tivemos muito essa tradição de Natal, mas ia ser mesmo muito chato ficar aqui sozinha, nesse Rio de meu Deus...

Aproveito a chance pra ser piegas e desejar a todos não apenas rabanadas, panetones e peru, mas momentos bons e divertidos junto daqueles de quem se gosta - que a festa seja uma chance de se partilhar alegria!

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Mais um sobrinho


Vai ser em agosto. Vai ser filho de Dadá e Rilton, meus irmãos de alma. Vai ser menina? Vai ser menino? Vai ser feliz. Vai ser meu afilhado (tadinho, tadinho). Quero muito ir a Recife dar um beijo no bucho que por enquanto protege o futuro leãozinho. Que vai ser muito amado, mesmo que rubro-negro como quer a mãe. Estou pulando de alegria.

Fim de semana

Neste fim de semana, resgatei minhas raízes! Fui com Leo, paraibano arretado de Campina, pra Feira de São Cristóvão. Nosso menu assustaria qualquer 'sulista' desavisado: tripa assada de entrada, cabrito ensopado com inhame, e quebra-queixo de sobremesa. Ainda compramos goma pra fazer tapioca e queijo coalho, e se eu tivesse fogão, ah!, tinha levado umas favas... A saudade vai entrando pelos poros, naquela feira bendita. Que foi rebatizada de Centro Cultural de Tradições Nordestinas Luiz Gonzaga (ufa!), mas é chamada pejorativamente pela cariocada de Feira dos Paraíbas... Lá não chega a ser uma Feira de Caruaru e, como aquela, já virou uma coisa meio asséptica (a barraca onde a gente comeu aceita American Express). Ainda assim, onde mais neste Rio eu poderia ver bolo barra branca, bolacha de soda, farinha quebradinha e raizada? Feijão verde debulhado na hora? E aquela profusão de pimentas?

Me diverti muito, apesar de odiar o tipo de forró que hoje toca na feira. É uma babel de sons musicais, forró calcinha preta e banda calipso comendo no centro, brega até umas horas, e eu babando por um pé de serra que não apareceu (só rola tarde da noite e eu tive que voltar cedo, porque tinha concurso no domingo de manhã).

Acabou que Leo e eu paramos numa barraca onde tinha uma aparelhagem enooooorme, de um maranhense aí. Não tinha tiquira, mas ypioca faz o mesmo efeito. Dançamos reggae feito dois malucos e depois ainda paramos num videokê horrível, onde a galera fechou a cara porque eu fui cantar Secos e Molhados e ele, o Rappa. Pô, lá tava o fino, só saía Odair José e quetais, realmente somos dois estraga-prazeres. Mico total e inesquecível!

Domingo fomos almoçar na casa nova de Queops (e Renata!). Vi Ádrea, Ruane, Gustavo, Nininho, e conheci Camila e Josy. Fiz a minha velha rabada iconoclasta, aquela que choca os desavisados por levar entre os ingredientes canela, cravo da índia e chocolate (além de vinho, claro). Ficou bom, muito bom. Deu saudade de Rilton, Dadá, Samuca e outras festas de babete feitas tempos atrás, no Recife. Não sabia que estava com tanta saudade de cozinhar!

(Segue mal-e-mal a receita da rabada, pros atrevidos de plantão. Aviso que não sei a quantidade exata dos ingredientes, costuma funcionar no olhômetro. Até hoje ninguém soube repetir igual. Sirvo com purê e arroz de funghi, mas ontem foi arroz branco mesmo)

*Rabada limpa e escaldada (depende da quantidade de pessoas, um quilo dá pra começar a ser feliz)

*Dois ou três copos de vinho tinto (não precisa ser de muita qualidade, mas se for seco e com uva de verdade em vez de ki-suco roxo, é um grande adianto)

*Extrato ou polpa de tomate (ou tomates de verdade, se estiver com paciência)

*Cebola (muita cebola!)

*Alecrim (se for fresco, melhor)

*Azeite

*Pimenta (gosto de todas, mas a preferida é a SÍRIA, que vem misturada com uns condimentos muito legais e tem um cheiro muito bom, afemaria)

*Cravo da índia

*Canela

*Cenoura ralada (ontem pus duas, das grandes)

*Sal

*Chocolate (normalmente, cacau dos padres, que é sem açúcar, ou meio amargo. Mas isso é em tese, ontem eu botei foi dois batons-garoto inteirinhos. Juro que fica bom)

*Sal a gosto

A imagem acima mostra um almoço que preparei pra Samuca, em janeiro, na minha casinha em Recife. No perfil do Orkut dele, em pratos preferidos, ele tascou "língua e rabo de Mariana", é mole? Voltando à rabada, é bom fazer de véspera, tirando bem todo o sebo visível pra comida não ficar gordurosa e, principalmente, deixando o caldo apurar por horas até ficar grosso, denso, perfumado, com a carne quase soltando dos ossos e se desmanchando na boca. É de comer rezando.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Aleluia!



Faltando quatro dias pra completar um mês... sem poder acessar emails particulares no trampo... pagando caro no cybercafé... hoje, finalmente, eu estou postando de casa! Sim, eu consegui salvar tudo do meu computador! O nome do santo milagreiro é Jod, amigo baiano de Queops. Figuraça. Agora vou ver se boto ordem nessa zona! Ó só, minha cara de alegria...

Curitiba


Meus fiéis cinco leitores, peço-lhes desculpas pela demora em atualizar aqui o Sítio. O computador de casa tá enguiçado - juro, ainda - e o bicho tá pegando, no trabalho... Aqui neste post vou falar, com bastante atraso, de Curitiba, onde eu nunca tinha estado. Aproveito e deixo um beijo pra Janine, minha leitora insuspeita, que vocês podem conhecer aqui nestes comentários. Queria ter sabido da existência dela mais cedo, pra poder ter tido companhia ou, pelo menos, umas dicas pra me virar lá na capital do Paraná. Mas, de qualquer maneira, foi divertido...
Eu tenho um primo que sempre fala que eu preciso 'deixar de ser mulherzinha'. O que ele quer dizer é que eu tenho que parar de frescura com uma série de coisas que, admito, eu não gosto de fazer - tipo, ir ao cinema sozinha, sair de noite sozinha e, claro, viajar sozinha. Enquanto o negócio se restringe a viajar a trabalho sozinha, com a programação toda definida, até que não é tão ruim, sempre durmo direto, feito uma jaca, nem dá tempo de pensar em qualquer solidão possível, de tão corrida que a rotina é. De noite, a gente chega chumbada no hotel, e aí é até bom não ter que dividir o espaço: posso andar pelada o quanto quiser, ir no banheiro de porta aberta, bagunçar bastante e não me preocupar com as suscetibilidades de nenhum companheiro(a) de quarto.
Mas sábado, eu tive a manhã toda livre pra ficar em Curitiba - o único vôo que conseguiram saía às 13h50. Acordei às 8h e catei os teréns, ciente de que tinha três alternativas: ou ficar fazendo hora no hotel (típico hotel besta próximo a aeroporto, projetado pra pessoas em trânsito, sem qualquer atrativo - aliás, não vejo mesmo nenhum atrativo em hotel, por mais chique e bonito e bem localizado que seja); ou ficar fazendo hora no aeroporto (terrível, terrível, terrível. Às vezes o jeito, quando você tem menos de três horas pra esperar e o troço é longe demais do centro); ou 'deixar de ser mulherzinha' e ir aproveitar a chance de dar uma olhada na cidade.
Rumei direto pro aeroporto, pra ficar livre do check-in. Como era cedo demais, a rigor a moça da Gol não deveria embarcar minhas malas, e eu estaria obrigada a carregar o trambolho ou pagar um armário que nem sei se tem naquele aeroporto. Mas aí eu tive a primeira prova do jeito acolhedor dos curitibanos: ela deixou a maleta junto dela, "não se preocupe, quando for lá pra onze horas eu mesma mando". Me ensinou a pegar o ônibus certinho, o que olhar, etc. E lá fui eu, de ônibus executivo, pro centro de Curitiba.
Primeira parada: rua 24 horas. Sempre quis conhecer a rua 24 horas! E o que a maluca aqui foi fazer, chegando na rua 24 horas? Depois de olhar as lojas, assim por cima, entrei no stand do Farol de Cultura e... fui acessar meus emails. É mole? A pessoa com quatro horas pra passear, vai perder tempo lendo email? O rapazinho que toma conta do negócio é uma simpatia - pediu comprovante de residência, quis saber se eu já era cadastrada, e quando tomou consciência da minha situação de retirante perdida no Paraná, abriu um sorrisão e me deixou acessar a internet, de graça. O sistema que eles usam lá é Linux e é tudo tão organizado e bonitinho que fiquei muito impressionada, acho que valeu como programa turístico!
De lá, voltei pela Praça General Osório, onde estava tendo uma feirinha de artesanato e eu passei mais meia hora conversando com Christiane, uma figura maluca e engraçadíssima que faz fantoches e ímãs de geladeira de látex. Em seguida, peguei a rua XV de Novembro, onde vi o Palácio Avenida, esse prédio da foto onde tem cantatas natalinas à noite (ou seja, não vi nenhuma, e também perdi a iluminação de Natal), e onde não tive coragem de antecipar as compras de fim de ano - tava tudo entulhado de gente. Assim, entrei na Livraria Curitiba. O primeiro vendedor que se aproximou, achou graça do meu sotaque carregado; soltou o 'você é baiana?' de praxe e, pra sorte ou azar dele, tinha um guia ilustrado sobre Pernambuco na estante em frente. Lascou-se: foram 40 minutos conversando potoca e, se não comprei nada e ainda diminuí as comissões dele em outras possíveis vendas, mas acho que ele gostou do papo. Segui até o fim da rua XV de Novembro, dobrei na Praça Generoso Marques, entrei num sebo e comprei dois gibis do Níquel Náusea e três 'sabrinas' tipo clássicos históricos, uma falando de índios no velho oeste, outra de deuses celtas e a última, de castelos medievais (é tudo a mesma merda da 'sabrina' comum, mas dá a sensação de que você é menos piegas, tá certo que a mocinha e o mocinho seguem os mesmos estereótipos e travam diálogos semelhantes e vão acabar juntos depois dela manter a virgindade e sofrer durante todo o livro, mas a trama se passa há mil anos atrás, pô). Essas revistas, junto com uma cocada alemã e um ímã em forma de bobo da corte, foram minhas únicas compras.
Mais adiante, em frente ao Teatro Guaíra, cheguei ao ponto do ônibus, esbaforida. Lá, estava Ricardo, simpatia de criatura que voltava pra Maringá. Primeiro ele ficou meio nervoso, até que percebeu que eu tinha percebido a aliança no dedo anular esquerdo. Aí, relaxou. Falamos de tudo: trajetória profissional, açudes no Nordeste, governo Lula, diferenças entre as regiões brasileiras... Desci no aeroporto olhando com pena pra ele, na certeza de que nunca mais vou encontrá-lo. Não trocamos telefone, email, nada. Só visões de mundo e simpatia.
Nessa hora, já eram 13h20 e só deu tempo de pedir uma coxinha pra viagem e engolir a dita cuja na sala de embarque, almoço pra quê? Fiz uma escala em Congonhas, comi as barrinhas de cereal que eles servem pra enrolar a fome, e aproveitei pra me esparramar em três cadeiras, porque o vôo veio vazio. Quando já estava chegando no Rio, os comissários de bordo sortearam um 'kit surpresa' e eu, feito menina pequena, pulei de assento quando vi que o sorteado era o desocupado, junto de mim. O comissário veio rindo, sussurrou "eu vi que você mudou de lugar", mas me deu o prêmio: um saco com uma lata de pepsi twist, uma batata-frita ruffles pequena, e uma garrafinha plástica com a logomarca da Gol. Tudo bem, mais um evento pra fechar o dia, mais uma pessoa que me tocou de alguma forma: o sorriso do comissário valeu mais que o brinde.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Mais um vexame


Vim pra Guamirim, distrito de Irati, município a 2h30 de distância de Curitiba, participar da formatura do Cedejor. O vôo saía às 7h do Galeão, acordei antes das seis, cansada por duas noites mal-dormidas seguidas, e segui pro aeroporto. Lá, descobri que deu o tilt no avião; depois de muita espera e nenhuma informação, o vôo acabou saindo - às 10h, horário em que supostamente eu estaria chegando em Curitiba. Lá, no aeroporto, seu Osmar me esperava.
Seu Osmar é motorista da Localiza e foi o premiado pra me levar a Irati, esperar até nove da noite, e me levar de volta a Curitiba, de onde vou pro Rio, amanhã. É um senhor baixinho, de boa cara, de jeito formal e ar educado como a maioria das pessoas do Sul que tenho conhecido nos últimos meses. Conversei com ele uns dez minutos, e prontamente caí no sono, deixando de apreciar a paisagem tão bonita das estradas paranaenses.
Sabem aquele tipo de sono esquisito, em que você está quase acordada e mistura as coisas? De repente, eu estava indo para Guamirim, distrito de Irati, município a 2h30 de distância de Curitiba, participar da formatura do Cedejor. Seu Osmar estava dirigindo o carro, um homem de idade ia sentado na frente, atrás vinha outro cara e, junto de mim, uma adolescente com os cabelos mais vermelhos que eu já vi. E eles conversavam, e faziam comentários sobre mim (seriam o Ego, o Id e o Superego? Três entidades espirituais? Sei lá da minha vida). A menina era a pior de todos, ria muito do fato de eu estar dormindo enquanto o mundo à minha volta fervilhava. Eu olhava pra mim "de fora", vendo a cena toda. Teve uma hora que os comentários foram piores e eu - no sonho? -, mesmo de olhos fechados e balbuciando, xinguei a danada de tudo que foi nome. Quem me conhece sabe - eu rio, falo, faço careta quando estou dormindo. Quando acordei, não sei não, mas achei seu Osmar com a cara meio esquisita.

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Biscoitinha


Domingo eu fui pro aniversário dela, Thaís Couto, vulgo Biscoito, gente linda de cara e alma. Valeu pela aventura de ir até Jacarepaguá (loooonge!), de conhecer a casinha encantadora onde ela mora com os pais que só podiam ter gerado uma criatura assim (ou vice-versa), mais a avó boa de bico e de samba no pé. Tipo do programa que deixa a gente sorrindo por cada poro. Taí a foto no blogue, pra meus amigos recifenses conhecerem mais uma carioca especial, incomparável. Um cheiro, menina!

O que procuro quando me procuro...


(Tou sem tempo pra escrever no trabalho e sem computador em casa. Aqui, um texto bonitinho que parece com o que sinto, só pra não deixar frustrados meus três ou quatro fiéis leitores. Amanhã vou pro Paraná, volto no sábado, e então falo de mim...)



Quando confiro as chaves no bolso não procuro as chaves. (...) Quando olho para trás não procuro reconhecer. Quando perseguido não procuro despistar. Quando guardo segredos não procuro me esconder. Quando aponto um lápis não procuro anotar. (...) Quando me falta uma palavra não procuro falar. Quando junto as moedas não procuro troco. (...) Quando choro não procuro a memória. Quando dirijo não procuro chegar. Quando vou ao cinema não procuro a legenda. Quando danço não procuro os pés. (...) Quando canto não procuro me ouvir. Quando cumprimento não procuro agradar. Quando me despeço não procuro me afastar. (...) Quando desligo o som não procuro a paz. Quando arrumo o quarto não procuro me organizar. Quando perco a data de uma conta não procuro os juros. (...) Quando vem a chuva não procuro me proteger. Quando abençôo não procuro me salvar. Quando leio os jornais não procuro me informar. (...) Quando tiro a calça não procuro minha nudez. Quando rezo não procuro Deus. Quando minto não procuro convencer. Quando nego não procuro dispersar. Quando honesto não procuro o elogio. Quando critico não procuro destruir. Quando dou presentes não procuro me prender. Quando louco não procuro me ocupar. Quando longe não procuro me aproximar. Quando escrevo não procuro assinar. Eu procuro um amor com mais freqüência do que me encontro.

Carpinejar

terça-feira, dezembro 06, 2005

segunda-feira, dezembro 05, 2005

The lady in red


Sábado tinha aniversário de uma amiga, Andréa. Marquei às dez, no Democráticos – um clube-salão-dançante lindo, lá na Lapa. Às nove começo a me preparar, e aí, a tristeza: nada serve. Acho que toda mulher já passou por cena semelhante e no meu caso, ela se agravou porque nada servia mesmo, porque eu engordei, e isso dá uma frustração tremenda. Voou roupa pra todo lado, e eu quase desisti de ir. Acabei pegando um vestido velho, no batente diário há mais de três anos. Aquele vestido que você não agüenta mais usar, que pode sair andando sozinho sem precisar de você como cabide. Mas é um vestido vermelho, e a gente não deve subestimar o poder da cor. Rumei pra Lapa, sozinha, passeando pela rua onde os travestis fazem ponto. Três malucos me abordaram no caminho, sendo o último um cara todo tronchinho, que grunhiu quando eu passei – “já não basta vir de vermelho, ainda bota esse batom?”. Subi rindo, dancei muito, e a noite acabou mais divertida (sem detalhes, epa!), e instrutiva. Serviu pra eu confirmar que os homens são bichos muito diferentes da gente. Eu tava preocupada de não caber na roupa nova. Mas basta usar vermelho, e passar batom. ;.)

O Tempero da Vida


Ontem assisti a Tempero da Vida. E ele me evocou uma série de lembranças queridas, acerca de comida e de família. Lembrei de minha mãe, que depois de doente ficou mais e mais exigente, porque a quimioterapia a deixava enjoada – e por isso saía à busca não de comidas ‘saudáveis’, mas que lhe agradassem o paladar e a alma: assistia a programas culinários no canal People + Arts, aprendendo a preparar javali ao molho de blueberries e outras receitas cujos ingredientes jamais encontraria no Recife, e ao mesmo tempo deu um escândalo no hospital onde foi internada, fez greve de fome por um dia inteiro, e acabou obrigando a nutricionista a lhe servir a mesma comida destinada ao pessoal da limpeza – feijão, jerimum, farinha e ovo frito. Comida pra mim é muito isso, evocação. Quando meu avô morreu, mamãe chorou no supermercado, abraçada a uma lata de queijo do reino Borboleta – e eu sei perfeitamente o que ela sentiu, porque também lembro dela cada vez que vejo pudim de clara e polenta. Baba de moça é vovó Nagicina, brigadeiro é meu irmão Gabriel, sopa de feijão com macarrãozinho é vovô Zezé, bolo de rolo é vovó Sylvia, pudim é Julia, jambo e pitomba é infância. Preparar a comida é outra coisa que diz muito da gente. Mamãe mal sabia cozinhar, mas sua cuca de banana com as rodelinhas em cima e seus biscoitos de raspa de limão amassados com o garfo são iguarias inesquecíveis. Também não era sempre, mas o ritual de ver minha mãe fazer filhoses no fim de semana me enternecia e infelizmente não vou mais poder repetir a cena, até porque ela não deixou a receita. Eu não sei seguir receita. Tenho vários livros de receita, adoro sites culinários, mas não sei seguir receita: pra mim aquilo é só uma base pra ser desconstruída, o ponto de partida pra eu inventar variações. O resultado é que as coisas que faço ganham meu jeito, meu gosto. E eu sou meio iconoclasta. Ontem vendo o filme lembrei disso, ao ver uma personagem colocar canela na almôndega que preparava. Meus doces levam sal, meus salgados levam açúcar. Meu prato mais famoso, o que mais tem fãs e o que sou obrigada a preparar para Samuca, Dadá, Rilton, Queops, Flavão e quem mais tenha comido dele, é uma rabada com molho de vinho e chocolate. Descrever não adianta, como não adianta franzir o nariz sem ter comido. Cozinhar pra mim é passar dois dias pensando em cada ingrediente que vou colocar na comida, é sair para comprar coisinhas no mercado e enfiar a mão à la Amélie Poulain nas sacas de grãos, é preparar seis meses antes um azeite especial com pimenta, louro e alho, é sentir o cheiro e a cor das especiarias distribuídas nos potinhos, é comer junto com os amigos, partilhando a alegria. Acho que por isso ando tão triste, porque minha casa não tem fogão e não tem mesa nem espaço pra se fazer esse tipo de farra. Comida na minha vida virou um negócio monótono, pão integral com queijo toda manhã, almoço no mesmo self-service, e promoção de coxinha com coca-cola da chinesa da esquina que como toda noite antes de chegar em casa, junto com um maldito churro. Depois eu não sei porque ando triste, depois eu não sei porque estou com anemia e dez quilos mais gorda, depois eu não sei. Ou sei?

sábado, dezembro 03, 2005

Surto?!?


Que trem do samba, o quê. A mulher-alfinim aqui, feita de açúcar, desistiu na hora h, diante do toró que caía neste Rio de meu Deus. De quinta até hoje, assisti a filmes. Na noite da quinta, fui ver o documentário "O Fim e o Princípio", lindo filme de Eduardo Coutinho que rendeu comentário de Jackie e me fez lembrar de minha avó e de Ariano Suassuna. Na saída, dei de cara com Ana Roditti, amiga jornalista que faz divulgação pra Lumière e que tinha entrada sobrando pra pré-estréia de "Vocação do Poder", de Eduardo Escorel e José Joffily (puta documentário imperdível sobre seis candidatos a vereador, em sua primeira eleição). Na sexta, passei na locadora, por causa de um post de Paulo Goethe, e peguei "Desde que Otar partiu" (bonito, principalmente o desfecho), o maravilhoso "Valentín" (uma das coisas mais poéticas que vi nos últimos tempos), e, pra fechar o pacote, um filme grátis 'do catálogo' - "A Corrente do Bem", típico sessão da tarde meloso. À noite, fui com Queops assistir a "Flores partidas", de Jim Jarmusch. Perfeito, roteiro impecável, final anti-hollywoodiano, senso de humor sarcástico, pra entrar na lista dos bons filmes vistos nos últimos tempos, junto com "Cinema, Aspirina e Urubus", "Da Cama para a Fama" e "Peixe Grande", que Dudu me emprestou. Engraçado, o surto, não? Vou ver se arrumo algo de diferente pra fazer, mas tou gostando da overdose fílmica. Vou perguntar a Renatinho se ele me recomenda MAIS alguma coisa... Hehehe.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Salve o Dia do Samba

Amanhã é o Dia Nacional do Samba, data especial porque marca meu prazer em estar no Rio de Janeiro. Dois de dezembro de 2004 foi também o dia em que me aproximei de verdade de Nininho, amigo querido que me apresentou aos Sambamantes e a tantas riquezas deste Rio de meu Deus. Mas isso é uma outra história, voltemos ao Dia do Samba...


Em agosto do ano passado, vim trabalhar aqui e morava com minha tia (linda, joiada e maravilhosa, mas completamente diferente de mim). Eu vivia em Ipanema, e devia estar contente com a boca escancarada e cheia de dentes que nem na música de Raul, mas o fato é que me sentia infeliz, dentro de uma ‘bolha’. Não achava minha turma; todo mundo me parecia artificial como personagens de novela da Globo, os homens todos envergando tênis Puma, as mulheres todas de cabelo louro tinindo de escova progressiva, sem um grama de gordura escapulindo dos biquínis minúsculos ou dos vestidinhos despojados que custam R$ 600 na Khrisna. Cadê o povo de verdade? Cadê gente que goste de farofa, que tenha defeitos, que ande despenteada e ria alto que nem eu? E que bairro caro, sô. Vai lá na padaria comer uma coxinha, pra ver o prejuízo!
Diante da falta de amigos, fui me apoderando sofregamente dos amigos alheios, como fiz com Aline. Eu a conheci em Arcoverde no São João de 2004, e a reencontrei num show do Nação Zumbi (mais um sinal do banzo: freqüentar tooodos os eventos da comunidade pernambucana no Rio, tentando manter um mínimo de saúde mental). Pra quê?, a partir daí, ‘tomei conta’ de vários colegas de mestrado dela (Design, da Puc): Tati, Delano, Kitty, Dani Pinna..., que hoje são amigos extremamente queridos, cada um a seu modo, e muito mais amigos "meus" que entre eles mesmos.
Mas isso era pouco pra quem sempre teve a boca maior que o juízo. Fiz uma busca no Orkut (!!!!) e entrei em várias comunidades díspares: cinéfilos cariocas, samba de raiz, balzaquianas, gordinhas, movimento mangue. Me encaixei, às vezes forçadamente, onde coubesse um rótulo ou um interesse. E feito maluca, fui a alguns encontros presenciais. Não com possíveis ‘candidatos’ a namorados; eram encontros em grupo. Desse tempo, poucos contatos ficaram, mas alguns valem a pena ter conhecido: a outra Aline, Gibran, Tatá. Outro amigo querido, Luiz Pimenta, conheci através da velha
Agenda do Samba e Choro, que eu assinava desde Recife. Assim, do nada. Só porque escrevi pra lá um dia, reclamando que, quando estava em Pernambuco, ficava babando com os eventos no Rio mas não ia porque estava longe; e, no Rio, não ia a nada, por falta de companhia. “Sou um carioca que morou no Ipsep”, escreveu ele, um verdadeiro gentleman. E eu, sem juízo, fui conhecer esse presente de Deus. Marcamos um dia na frente do cinema Odeon, e me encantei com o jeito educado do moço. Foi Luiz quem me apresentou ao Bip-Bip, ao Bar Brasil, ao Renascença, ao Largo da Carioca, à Lapa e à Cinelândia. E foi Luiz quem me falou do Trem do Samba.


Pois é, o Trem do Samba! Dia três de dezembro do ano passado, para horror de minha tia, cheguei em casa às cinco da manhã (coitada, imagino que deve ter ficado preocupada, comigo lá perdida num subúrbio ‘hostil’). Vários meses depois esse passeio continuava me valendo experiências importantes, contatos profissionais, lembranças queridas que surpreenderam até mesmo minha tia, que não imaginava que fulano ou sicrano pudessem gostar "desse tipo de programa".

Quem nunca foi não tem idéia do que seja. É um trem, que sai em viagens consecutivas da Estação Central até Oswaldo Cruz, subúrbio carioca looonge demais de Ipanema. Em 2004, quando não conhecia ninguém, me enxeri e resolvi ir de qualquer jeito. Marquei no MC’Donalds da Central com uma galera do bendito Orkut (três meninas e um rapaz), a maioria deles ‘importados’ que nem eu. Só ir à Central já valia à pena: desfilando diante dos meus olhos, surgiram as Velhas Guardas da Mangueira e do Império. Pra quem é do Recife, digamos, é como se a gente pudesse escolher e tivesse um vagão do Eu Acho é Pouco... outro do Enquanto Isso... Mais um do Quanta Ladeira... Aquele lá, do Bloco da Saudade... Um do Clube das Pás... Vagões de blocos e rodas e clubes e cordões pequenos e grandes, alguns extremamente entupidos, saindo de tempos em tempos em direção a algo que é o que mais se parece com o carnaval da minha terra aqui, no ‘exílio’. Peguei o vagão do Cacique de Ramos, e fui cantando e rindo até Oswaldo Cruz, juntinho ali de Madureira. Lá, em cada esquina, além de cerva gelada, tremoço, salsichão e churrasquinho, tinha samba do puro e do bom. Luiz Carlos da Vila, Dorina, Arlindo Cruz, Galo Preto. As rodas de bamba, todas. Tudo de graça. Ao ar livre. Meio de improviso. E a lindeza que é ver o jeito suburbano de ser das pessoas, puxando as cadeiras e botando na calçada? Foi a primeira vez que vi, de verdade, o Rio além-Ipanema, e meu coração se aqueceu. Desde então não aceito mais rédeas e vou aonde bem entendo, e aos poucos construo minha própria referência afetiva da cidade, para além do rótulo fake de ‘maravilhosa’.

quarta-feira, novembro 30, 2005

Top, top, top - ugh...


Domingo fui ao Top Fashion Bazar do Città América. Traduzindo: fui à ‘liquidação’ das lojas de grife aqui do Rio, num shopping da Barra da Tijuca que ficou famoso anos atrás por exibir do lado de fora ‘ícones’ da terra de Tio Sam: uma réplica da estátua da liberdade, um violão-banjo do velho oeste, coisinhas assim. Agora, me digam, o que isso tem a ver comigo, contumaz consumidora do Mercado de São José e, na falta dele, do meu amado Saara? Fui acompanhar Tati, amiga querida que calça e veste 38. Ela pega o carro do marido, dirigimos horas, enfrentamos uma blitz no morro do Vidigal, e enfim chegamos lá. Primeira mancada: o troço fecha pra almoço, coisa que nunca vi noutros lugares mas aqui no Rio parece ser normal, junto com o comércio não funcionar no sábado à tarde pra galera poder curtir a praia na boa. Tudo bem, esperamos. Às 14h, reabriram as portas do inferno e eu, pobre mortal, abandonei qualquer esperança de achar qualquer coisa que me servisse ali (o que não foi de todo mau, fiz uma boa economia). Como Tati queria comprar várias coisas pra ela, pro marido, pro periquito e pro papagaio, resolvemos nos separar. Aí eu senti o que é ser um ser invisível, embora seja assim alta e larga. Entrava nas lojas e as vendedoras, todas com cara de enfadadas, nem chegavam junto. Cavendish, Mariazinha, Yes Brazil, Farm, Osklen, Lenny, Salinas, todos esses nomes que não me dizem grande coisa piscando ao meu redor. E a classe média ensandecida, salivando pela oportunidade de comprar por R$ 70 aquela camisetinha sem graça que custa R$ 200 na butique de Ipanema. Voltei pra casa quase incólume da experiência, portando um chinelinho fuleiro mas barato e bonitinho que, graças a Deus, não tem nenhum nome aparente e vou poder usar.

sexta-feira, novembro 25, 2005

Esse é dos meus...


"Eu gosto muito de conversar com os amigos, mas conversar com desconhecido, isso é que é bom mesmo, porque tudo é surpresa e a gente nunca sabe o que está por vir, cada ser humano é um grande mistério" (Samarone)

Do vermelho


Vermelho é mês que escorre pelas pernas. Vermelho é olho piscando insone na ausência. Sim, dores se vestem de vermelho. Laços se vestem de vermelho. Vermelho é lasca de esmalte no canto do desejo, o mesmo vermelho que atravessa rubras carnes e enrubesce brancas faces. Beijos se vestem de vermelho. Adeus desmancha vermelho. Vermelho é pedaço de pano escondendo o impublicável. O tesão é vermelho. Ódio é vermelho. O nu é vermelho. O cheiro do amor é vermelho. Vermelho tem voz de sirene. Vermelho tem pernas de vedete. Vermelho tranca-ruas. Vermelho come criancinhas. Vermelho passeia por entre dentros, por entre todos, por entre ricos e solitários. Vermelho, quando vai, traz o mar pra dentro do peito. Vermelho, quando vem, esquenta pés descalços. Nada vive sem o vermelho. Nada morre sem o vermelho. Nada pode ser, se quer ser algo mais que um pouco menos do que nada, se não for vermelho. Vermelho é o rei das cores. Por isso seu manto é vermelho. Vermelho é cor de tudo. De tudo que é. Do que foi. Do que devia ter sido. Do que um dia vai ser. Porque o ser sempre é vermelho.

(Por André Gonçalves)

quinta-feira, novembro 24, 2005

Essas coisas só acontecem comigo!


Pisei num despacho pra pomba-gira, só pode ser! Saio de casa me sentindo horrorosa, enfiada num vestido preto até relativamente comportado (este aqui, que na foto mal aparece. Era pra ser ‘de festa’ mas como quase nada meu cabe mais em mim, já entrou pro batente e está até fubento e folote – quem não souber do que se trata, procure um dicionário de pernambuquês). Pois do percurso do metrô até o trabalho, levei uma encarada de um velho, um ‘shhhh’ de um camelô e um ‘bom dia’ de um cara esquisito de maleta 007. Ô vida.
Aí, na hora do almoço, fui comer com Lu e Dri aqui perto, num restaurante que tem um segundo andar. Sentei pertinho da escada, conversamos horas. Depois de séculos, sobe uma mocinha sem-graça que me diz que ‘tá dando pra ver tudo’ (termo abrangente, mas eu não quis averiguar a dimensão do que ela estava afirmando) e que ‘viu gente lá embaixo comentando”. Saí correndo do lugar, humilhada. E tá resolvido: não uso mais essa roupa, não como mais nesse restaurante, e só agora só venho trabalhar de calça! Que vergonha, meu Deus.

Casa de Farinha


Ontem fui a um show no Teatro Rival, com minha amiga Sara, jornalista mestranda da UFRJ, niteroiense nascida no Ceará e antenada no mundo. Era um tal de Casa de Farinha e eu, como boa pernambucana preconceituosa que sou, já fui meio que num 'ixe, mais um grupo de sulista querendo tocar maracatu'. Do tipo 'não vi e já sei que não presta'. Pois sabem que gostei? Como a pretensão deles não parece ser a de ser 'representantes da diversidade folclórica', o som é divertido, dançante... Sara é das minhas: mal começou a primeira música, tiramos os sapatos, abrimos o salão e pulamos como duas malucas. Teve até ciranda...

terça-feira, novembro 22, 2005

...


Sou tantas, muitas, nenhuma. Não me sei. Sei só que sou dramática e minha vida é feita de extremos – e eu sou inteira na raiva, na dor, na alegria. Choro lendo ‘Bianca’, bato as asas em desespero dentro da minha gaiolinha carioca, quero tanto desdobrar minhas asas. Quero meu espaço, quero minha vida, mas não sei tomar conta de mim. Recife parece estranho, no Rio sou pra sempre paraíba. O medo que me dá é que o híbrido é sempre um ser estéril e no meio desses cruzamentos todos, temo me perder.
Eu quero nascer, quero viver / Deixe-me ir preciso andar /Vou por aí a procurar / Rir pra não chorar / Se alguém por mim perguntar / Diga que eu só vou voltar / Quando eu me encontrar...
*Candeia sabe das coisas, tomara que eu me ache logo!

segunda-feira, novembro 21, 2005

De volta

Cheguei hoje de madrugada (5 da matina!) porque o maldito vôo atrasou. O Rio continua lindo, e a minha saudade de Recife segue enorme. Ontem foi legal, tirei fotinha de divulgação do livro no Parque Treze de Maio (ê, vexame!) e vi pessoas queridas (Val, Toni, Biu, Orla, Josy e Pedro). Dudu mais uma vez fez o velho ritual de me levar no aeroporto e eu subi no avião triste, mas acarinhada pelo cuidado constante. Pelo menos desta vez tenho o consolo de que em janeiro estarei de volta, pra lançar o bendito livro (até lá, tenho que arranjar $ pra isso). Já vim trabalhar, tou retomando a vidinha carioca...

Cariocas são bonitos
Cariocas são bacanas
Cariocas são sacanas
Cariocas são dourados
Cariocas são modernos
Cariocas são espertos
Cariocas são diretos
Cariocas não gostam de dias nublados


Cariocas nascem bambas
Cariocas nascem craques
Cariocas têm sotaque
Cariocas são alegres
Cariocas são atentos
Cariocas são tão sexys
Cariocas são tão claros
Cariocas não gostam de sinal fechado...

quinta-feira, novembro 17, 2005

Banzo


Parece que quando você passa muito tempo fora, o familiar se torna estranho. Olho pra Recife e não me reconheço, e isso me deixa infeliz. Os lugares que frequentava não existem mais, ou já não prestam; e isso vale do supermercado ao barzinho. Tudo é uma experiência meio nova, embora nem sempre ruim, devo ressaltar. A cidade me invade pelos cinco sentidos. O ar de Recife é mais fino, a claridade dói na vista, o céu é quase branco, lavado. O cheiro de mangue, de jambo, dos jasmins de Olinda chega em mim fisicamente, quase como uma pancada. Aqui sinto a seda prateada dos cabelos da minha avó que não me reconhece mais, o cetim da pele de Luiza que está me estranhando menos, e a maciez de outros braços e abraços que me apertam com gosto. Aqui como o pudim de Julia, o risoto de Dadá, a tapioca da Sé, e engulo a saudade. Ouço o sotaque cantado dos meus conterrâneos, que me soa mais alto, mais aberto, mais luminoso que nunca, e as risadas dos meus amigos tilintam como sinos. Felicidade agridoce, essa, de passar dez dias como um relâmpago num lugar onde não tenho mais lugar, mas que é meu lar eternamente.

'Chauffeur'


Surpresa boa aqui em Recife: o 'boi-bufa' véio que foi de vovó Nagicina (e, por mais de ano, meu), foi consertado e está sendo usado por Gabriel e Guilherme. É o mesmo uno vermelho 1994 que tinha problema de esquentar não só a cebolinha, mas a turma da mônica inteira, e me fazia andar de garrafa pet em punho. Tá, ele é perronha, ruim de manobrar. Tá, ele não tem ar e aqui tá fazendo um calor infernal. Mas eu tinha esquecido da liberdade que ter um carro significa - ainda mais que a casa de Gabi, onde estou hospedada, fica num lugar fora de mão de onde preciso pegar dois ônibus para praticamente qualquer destino. Quando ele vai trabalhar, eu às vezes pego o bicho. Que nem nessa foto, tirada no celular do Dudu das Meninas, quando estávamos indo ao shopping assistir ao (lindo) Noiva Cadáver.

terça-feira, novembro 15, 2005

Farra




Não dá pra descrever... Mais fotos aqui.